Ensaio sobre a cegueira num mundo cor de rosa
Resumo
Este ensaio aborda uma breve história da Barbie no contexto sócio-econômico-cultural e político dos últimos 50 anos, fazendo algumas relações entre televisão, consumismo e crianças, centradas na figura da boneca. Escrevo a partir de observações feitas em uma escola pública de Florianópolis/SC, como estudante do curso de Pedagogia/UFSC em estágio de docência (2008) e supervisão escolar (2009) nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva da Mídia-Educação. Traço reflexões sobre o sucesso que os produtos da “marca” Barbie têm entre meninas, no que parece ser a influência das mídias sobre as crianças, na afirmação de um mundo cor de rosa em que a boneca vive, muitas vezes sob os olhos condescendentes dos pais e da escola.
Palavras-chave: Televisão; Consumismo; Criança; Barbie.
Texto elaborado para a Disciplina Imagens da Infância (2009-2), ministrada pela Profa. Dra. Telma Piacentini, no
Ensaio sobre a cegueira num mundo cor de rosa
“...O diálogo mudo da menina do Campeche
que passa um tempo que parece interminável
vestindo e despindo a sua boneca:
_ Do que é que brincas?
_ De nada.
_ Como é brincar de nada?
_ É brincar de tudo, oras!”[1]
Durante meu estágio do curso de Pedagogia/UFSC - em docência para a 3ª. série (ou 4º. ano) em 2008, e supervisão escolar, focando na formação de professores na perspectiva da Mídia-Educação, nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, em 2009 -, em uma rápida e superficial olhada pela escola, bastava para eu ficar intrigado sobre o quanto os meios de comunicação - e a TV em especial - têm influenciado as crianças para consumirem determinados produtos da indústria do entretenimento infantil, e do brinquedo.
Quando as crianças chegavam para as aulas, olhar suas mochilas enfileiradas no chão já permitia reconhecer os heróis que povoavam o seu imaginário. Ao acompanhar as crianças até suas salas, quando elas começam a colocar seus objetos em cima das carteiras - cadernos, estojos, borrachas, canetas e, às vezes, brinquedos - surgiam outros personagens de sua preferência.
Foi-se o (meu) tempo do Pernalonga,
dos Muppets, da Julie Pop e da Moranguinho. E eu mesmo nunca vi um Saci Pererê,
Emília de Lobato e, raramente, alguém da Turma da Mônica. Mais atualmente, e em geral, os meninos se sintonizam
e vão brincando com os carrinhos do Hot Wheels, com o Ben 10, Naruto, Homem
Aranha, Batman, às vezes Playmobil e Lego. As meninas brincam com a Pequena
Sereia, Hello Kitty, Meninas Superpoderosoas, Pucca e, desde há muito tempo,
com a Barbie.
Barbie nas mochilas à entrada da escola. Foto: Leonos
De ano em ano esses heróis e heroínas vão ocupando, mais ou menos, os horários na televisão e também marcam presença no cinemas, são “brindes” quando se compra uma oferta nas fast foods, e ainda aparecem ligados a uma enxurrada de sub-produtos em locais bem visíveis, e às mãos delas, nos supermercados, nas livrarias, revistas, nos shopping centers, outdoors, na Internet e em muitos outros lugares por onde as crianças passam.
Por ora, vamos observar esta escola, as minhas próprias ideias de televisão, ainda que superficialmente e a partir de meus próprios pré-conceitos. Observo as crianças e aquela boneca que sempre se reinventa, e permanece como uma espécie de rainha das baixinhas nos últimos 50 anos. Um “ícone cultural” que enfeitiça desde crianças a adultos com seu mundo cor de rosa. Vamos olhar a televisão, e procurar sobre o que se fala dela, quando veicula os desenhos, filmes e comerciais de produtos da marca Barbie.
Zapeando os canais de televisão e estudiosos da Mídia-Educação
No exercício de zapear os canais, seja pela manhã, no período da tarde ou até mesmo à noite, a criançada se depara com as mil aventuras de incontáveis personagens em inúmeros canais de televisão. O que temos na TV, pergunta Rosa Maria Bueno Fischer[2] num debate sobre a Televisão?
“Meninos de olhos enormes, corpos e movimentos
um tanto rudes, a guerrear em ritmo alucinante na animação dos desenhos
japoneses pelos quais as crianças são literalmente vidradas; Xuxa abrindo-nos
as páginas de um imenso livro do Era uma vez..., prometendo uma história
fantástica, um conto de fadas que não acontece, numa superprodução de cores,
cenários em brilho e cetim, texto moderninho, coisa bem próxima da linguagem
comum das crianças deste Brasil, formadas na e pela televisão.(...) Um mundo.
Muitos mundos via imagens eletrônicas.” (Grifos da autora)
Chamando Roger Silverstone e outros autores para um diálogo, neste texto Fischer esclarece os porquês de se estudar as mídias e, de como essa invenção – a TV – “transformou completamente a vida cotidiana, bem como a vida política e social da maioria dos países, no mundo todo”. Enfatiza de como é importante essa tarefa de estudá-la, ao que os educadores são chamados, assim como estudantes, crianças e adolescentes na escola, para discutir o que é produzido e veiculado nas TVs, se somos submetidos a algum tipo de controle, ou de como criamos sentidos para nós mesmos e para nossa sociedade. Debate como, inclusive, também influenciamos a TV, mesmo quando somos influenciados por ela.
Neste sentido, reconhecendo da dimensão da importância da TV em nossas vidas nestes tempos contemporâneos, há que se perceber o quanto ela pode estar influenciando o mundo dos negócios – ou vice-versa -, enquanto as crianças são público-alvo consumidor para uma indústria em franca expansão. Desde quando a criança se tornou o destino das mensagens publicitárias veiculadas pela TV? Isso é coisa de agora ou de há muito tempo?
Tratando desse grupo em particular - o das crianças – Girardello[3] incrementa aquele debate sobre a televisão, afirmando sobre a necessidade de pesquisar como as crianças recebem a TV e, qual seria o papel desta no cotidiano das crianças: “Como elas interpretam os desenhos, novelas, programas de auditório, telejornais, anúncios?” Enfim, que “significado elas dão ao que a televisão lhes mostra?”
Nas atividades que as crianças desempenham em seu cotidiano, uma pesquisa da autora sobre consumo de mídia e práticas culturais (Girardello, Orofino, 2002), em diferentes contextos culturais na cidade de Florianópolis/SC, afirma que “a televisão foi a atividade mais citada no relato que as crianças fizeram de seu dia-a-dia, mais presente ainda do que a atividade de brincar, independente da classe social. A única exceção foi a escola da comunidade pesqueira, onde a brincadeira apareceu em primeiro lugar”.
Essa exceção... Será que era a menina do diálogo mudo da epígrafe; aquela lá do Campeche que brincava assim, de uma brincadeira invisível aos olhos de quem a via?
Se as crianças passam muito tempo “com” a televisão, o “como” elas se relacionam com a programação nesse período é um estudo que interessa aos pesquisadores que vão aprofundando nessa área, e deveria também interessar aos pais e educadores. Por ora, neste ensaio abordaremos apenas uma breve história da boneca, refletindo sobre estudo e artigos publicados que, particularmente, se centraram na Barbie, relacionando-a com o consumismo exagerado de seus produtos, acessórios e o estilo de vida que ela “representa”. Um jeito Barbie de ser que observei alguns traços em minha passagem pela escola é que direciona o que entrelaço nessas linhas.
Criança como segmento consumidor
Nos anos 70 e 80 os
interesses da mídia sobre a criança e o adolescente surgem no Brasil e “o surgimento desse segmento a publicidade
procura usar ações diretas e indiretas para seduzir a criança e torná-la
consumidora de bens e serviços”, afirmam estudantes de direito que, em 2008,
estudavam a influência da propaganda e o consumo infantil. Uma análise de
comerciais veiculados apenas no período de 04 a 11 de outubro de 2008, das 8:30
às 12:00 h. de dois canais abertos de televisão (SBT e Globo), detectou um
total de 40 (quarenta) minutos diários de propagandas voltadas ao público
infantil, divididos entre os intervalos
da programação com comerciais que enfatizam que
“provavelmente
crianças bem pequenas já sabem o que são os bonecos Max Steel, ou Action Man,
os carros Hot Wheels, cachorrinhos Littles Pet Shop, bonecas Barbie Girl. São
comuns também anúncios chamando crianças a se dirigir a uma rede de fast-food
para colecionar brinquedos.”
Nesse estudo declara-se que
pesquisas afirmam que “as crianças
brasileiras são as que mais passam tempo em frente à TV em todo o mundo”, e
no caso estudado parece que
“os anúncios são direcionados com mais frequência às meninas, e dentre os temas abordados estão bonecas, jogos, sapatos, brinquedos, roupas, lojas de departamentos, shoppings e alimentos”.
Quanto às frases/slogans
desses comerciais observados, detalham os autores do estudo, estes são
veiculadas uma semana anterior à semana das crianças. Destacamos do estudo as frases
dos comerciais que se referem à boneca Barbie:
“Em seus comerciais, a Barbie ordena: ‘Seja o que você quiser’, ou seja: ‘Você é livre para inventar seu próprio destino’; ‘Faça o que você quiser’, desde que a sua aparência seja como deve ser.”
O comercial “Barbie Girl – tranças e mechas” tem esta cena:
“Imagem: Inicia-se com a música tema da Barbie
- Tranças e Mechas. A música fala sobre mudar o ‘visual’. Aparecem meninas com
suas bonecas e acessórios que mudam tanto os cabelos delas como os das bonecas”.
E o autores do estudo ainda observam
que
“essa
propaganda estimula brincadeiras baseadas no ato de consumir, a vaidade
precoce, glamour, ao requinte, adiantando fases da vida adulta. No comercial as
meninas possuem todas as bonecas e acessórios, porém na realidade são vendidas
separadamente. Crianças não aceitam apenas a boneca, querem também tudo o que
aparece na propaganda. Ir às compras como brincadeira é um incentivo ao
consumismo. Sabemos que a boneca Barbie representa um padrão de beleza que a
sociedade impõe como referencial a ser seguido, com medidas corporais
‘perfeitas".
E, na conclusão de seu
trabalho afirmam:
Os estudos
e análises de propagandas direcionadas às crianças, veiculadas na televisão,
demonstraram a forte influência ao consumismo infantil. Crianças são fáceis de
serem convencidas e, por permanecerem muito tempo em frente à televisão, são
bombardeadas com comerciais nos intervalos dos desenhos e programas a que
assistem.
Pais e educadores já não têm mais controle
sobre os pequenos e acabam sendo manipulados pelo desejo dos filhos de
possuírem os objetos, brinquedos e alimentos por eles almejados. Susan Linn,
professora da Escola Médica de Harvard, diretora associada do Centro de Mídia
Infantil Judge Baker e co-fundadora da Coalização pelo fim da exploração
comercial infantil afirma:
Como pode
uma família, sozinha, proteger seus filhos de uma indústria que gasta US$ 15
bilhões anualmente para manipulá-los? É uma luta ainda mais difícil porque uma
das técnicas primárias que os profissionais de marketing usam para manipular as
crianças é denegrir os adultos e enfraquecer a autoridade dos pais.
As análises
detalhadas de cada comercial evidenciaram o desenvolvimento precoce para vida
adulta, estimulando a vaidade, o glamour, o culto ao corpo e à aparência
perfeitos (cabelos, roupas e acessórios), de forma a inseri-los e torná-los
aceitos pela sociedade. A influência negativa dos apelos vinculados na TV
provoca também a formação de crianças egoístas, individualistas, chantagistas e
manipuladoras.
A ideologia do consumo imposta nas sociedades capitalistas aliena pais e a sociedade como um todo, fazendo com que percam o poder de limite da negação do consumo desenfreado. Programas de educação para o consumo consciente, já realizado por algumas empresas, são formas amenizar o problema, fazendo com que as crianças possam usufruir cada fase da infância naturalmente.
Nota-se que o trabalho e as conclusões acima são derivados da observação de estudantes de Direito - para apenas dois canais de televisão aberta no espaço de apenas uma semana - preocupados com uma questão que lhes diz respeito na defesa da Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, e da qual deveriam se ocupar educadores e pais e/ou responsáveis pelas crianças, uma ação defendida pelos estudiosos da Mídia-Educação. Os estudantes parecem estupefatos e perguntam de como a família pode proteger seus filhos dessa “manipulação” que estimula as crianças a perderem sua infância, por serem estimuladas precocemente à vida adulta. Isso em nome do lucro de empresas capitalistas que impõem toda uma ideologia. Quem protege as crianças disso tudo?
Membros do Instituto Alana[4] estão atentos à essas questões, quando obtêm dados de pesquisa que demonstram que
“sete em cada dez
pais entrevistados afirmaram serem influenciados pelos filhos na hora da
compra. Para os pais, os maiores influenciadores dos pedidos dos filhos, entre
sete itens estimulados, são as propagandas (38%). Em segundo patamar estão os
personagens de TV ou filmes e programas de TV (18 e 16% respectivamente. Apesar
de haver aspectos mais relevantes, a propaganda é um item de preocupação para
os pais, em virtude, principalmente, dos pedidos que os filhos costumam fazer, em
decorrência da mesma. Há quase consenso de que as propagandas são
influenciadoras e levam os filhos a uma atitude consumista.” (Instituto Alana, Pág 25)
Quando essa pesquisa conclui que “73% dos pais concordam que deveria haver restrição ao marketing e
propaganda voltada às crianças”, já em dezembro de 2009 sentiram-se na
obrigação de defender os direitos das crianças, ao verificar a veiculação
inadequada de filmes publicitários da linha “Barbie”, através de ação da equipe
do Projeto Criança e Consumo[5]:
“Todos os comerciais tratavam de posturas como
preocupação excessiva com a aparência, consumo excessivo de produtos e inserção
precoce da criança no mundo adulto. Ademais, em algumas publicidades fez-se
menção direta ao site da boneca "Barbie", que em meio aos diversos
jogos eletrônicos e brincadeiras online, sugere a aquisição de produtos Barbie.
Assim, a página na internet se revelou verdadeiro site de vendas e não mera
brincadeira para as crianças.
Verificou-se,
portanto, que a empresa Mattel do Brasil Ltda. desenvolveu estratégia de
comunicação mercadológica abusiva, porquanto direcionada às crianças e com o
objetivo de promover os produtos da linha Barbie.
Em razão da
comprovação de tantas abusividades, o Instituto Alana, por meio do Projeto
Criança e Consumo, em 26.2.2010 promoveu Representação perante a Fundação de
Defesa e Proteção do Consumidor — PROCON — do Estado de São Paulo cidade de
Franca, denunciando os comerciais televisivos e o site, que se dirigem
eminentemente ao público infantil. No momento, aguarda-se posicionamento do
órgão.”
E o que dizer de crianças que têm acesso aos canais da televisão a cabo direcionados a elas que estão no ar 24 horas por dia, com seus programas e comerciais? Os institutos de defesa do consumidor, os educadores, pais e responsáveis estão “de olho” no que as crianças assistem na TV?
A partir do exposto brevemente
acima, sobre a influência da televisão e dos
apelos da mídia e publicidade sobre as crianças que passam muito tempo “com” a
TV, o que dizer quando vem ao caso uma boneca que é aparentemente o sonho de
consumo de crianças que vivem em contextos sociais
e históricos específicos ao redor do mundo? Como e por que este sonho é
construído? Essa boneca Barbie é a mesma no mundo inteiro? Como começou esse
sonho de um “Barbie World”?
O mundo em que nasceu a boneca Barbie
No
maravilhoso mundo da Internet até a
Wikipédia fala da marcante influência que a boneca Barbie tem nos dias de hoje:
“A influência da Barbie nos dias de hoje é visível e sem dúvida
marcante. Sempre existem comparações e citações da boneca mais vendida do mundo
o tempo todo, costuma-se chamar alguém de Barbie por estar vestida de rosa, ou
por ser loira. Isso prova que a Barbie valorizou uma linha de preocupação com a
estética, beleza e ajudou a criar um padrão de beleza. A moda da boneca
influencia a sociedade, pois ela sempre procura simbolizar uma garota bonita,
inteligente, amiga, companheira, meiga e politicamente correta.
A Barbie marcou gerações inteiras e continua até hoje, devido a
personalidade que lhe foi associada e o padrão de beleza que simboliza. Não é
raro muitas meninas e adolescentes quererem se parecer com a Barbie.
A Barbie influenciou uma nova conduta em mulheres e crianças e criou uma nova identidade social que é perceptível em crianças, adolescentes e mulheres do mundo todo, mesmo sendo uma boneca originalmente estadunidense.”
A empresa que a fabrica - Mattel[6] - é americana, para onde vão, de uma maneira ou outra, os lucros advindos de sua comercialização, que dados revelam serem de US$ 1,5 bilhões dos 5 bilhões de dólares faturados pela empresa por ano. A empresa nasceu em 1945 da união entre o casal Ruth e Elliot Handler, e seu amigo Harold “Matt” Matson. Daí, das iniciais de Matt e Elliot surgiu a Mattel. A boneca Barbie foi criada por Ruth e seu marido em 1959, inspirada nas brincadeiras de sua filha Barbara (apelidada Barbie) que brincava com bonecas de aparência de bebês. Mas também inspirada numa “boneca erótica alemã” vendida em tabacarias e bares. Lilli[7] era “uma espécie de mascote para os homens adultos”, saída do universo das histórias em quadrinhos do periódico Bild-Zeitun, da Alemanha pós-guerra e transformada em boneca. Queriam fazer uma boneca não mais com feições de bebê, mas uma com feições de adulta. Tempos depois a própria Mattel teve de pagar uma indenização pela “cópia” feita da boneca Lilli, dizem os registros.
Lili Marlene e outras Lilis
Aqui faço uma pausa para instigar um pouco. Eu penso que essa boneca Lilli – a “mascote dos adultos”- também tenha uma relação com a canção “Lili Marleen”[8] (ou Lily Marlene, ou Lili Marléne), que se tornou favorita dos soldados da II Guerra Mundial, de ambos os lados. Consta que a letra original, em alemão, foi escrita em 1915 e, depois gravada também em inglês, até finalmente se imortalizar na voz de Marlene Dietrich[9] em 1943. A música em questão fala de um encontro de amor e despedida entre um soldado e uma moça, sob um lampião. Um lampião que conhecia os passos e o lindo caminhar dela.
Todas essas ideias “no ar” não foram captadas e transformadas numa personagem de cartoon do jornal alemão e, depois, na boneca com feições adultas para homens já formados que a podiam comprar em lugares que não são, necessariamente, os freqüentados por crianças? Naquele mundo pós-guerra, necessitado de algo que consolasse, “eroticamente”, uma Alemanha em frangalhos, a boneca Lilli não seria, então inspirada, também, nessa personagem da música de sucesso?
Sobre esse nome “Lilli”, também chega à memória a música “Hi-Lili Hi-Lo”[10], sucesso do filme “Lili” com Leslie Caron de 1953. Cena que, ironicamente, se dá com marionetes, incluindo uma bailarina loira e lábios vermelhos e, um lobo mau...
Há uma versão da música foi adaptada para um poema que ainda me recordo dos tempos de criança: “Um ninho de tico-tico”[11], da poetisa e educadora brasileira Zalina Rolim (1869-1961).
Esses fatos são concorrentes nesse período da história, e pouco antes da “invenção” da Barbie, em 1959. Tempo de profundas transformações na sociedade e avanço do poderio norte-americano. E, a boneca “avançou” junto e conquistou os seus espaços.
A
boneca Barbie era, então, uma “típica
garota americana, com seu twin-set de lã e faixas no cabelo e perucas que
vinham em três cores: loura, castanha e ruiva”. Como curiosidade a Wikipédia
declara que “a ideia de uma boneca com
feição adulta, segundo Ruth, era inspirada no fato de que quando criança, você
sempre quer crescer e se tornar uma mulher adulta”. Eu suponho que ela
tinha muito de publicitária e marqueteira.
A Barbie por uma pedagoga
Para analisar essas questões em redor do
que significa a Barbie, uma Pedagoga vem contribuir com extensas reflexões em vários
artigos e uma dissertação de mestrado dedicada a isso, aprofundando o tema em
seus aspectos de conceituação de criança e infância, brinquedo e indústria
cultural, gênero, corpo e sexualidade, estética, tecnologia e comportamento
entre outros. Segundo Roveri[12], em seus estudos sobre a boneca da Mattel,
“à criança cabe a busca por uma aparência
adulta assemelhada à da boneca. Meninas candidatas à Barbie brincam com o
próprio corpo na fantasia de que o mundo fashion da boneca possa corresponder
às suas vidas. Nessa ideologia, há estreita ligação entre ter o que é da Barbie
e tornar-se a própria Barbie: vestir suas roupas, usar seus acessórios e
sapatos iguais aos seus, significa conseguir o mesmo corpo, o incrível sucesso,
o luxo e o prestígio da boneca.”
E a autora sugere que, adquirindo a boneca
e seus acessórios numa coleção que nunca tem fim, a boneca se imortaliza para
crianças e adultos colecionadores. Nos anos
seguintes a Barbie vai se tornando uma boneca mais flexível, articulada, se
aperfeiçoando conforme a tecnologia de fabricação de brinquedos ia se
desenvolvendo, incorporando elementos que fizeram dela a boneca mais vendida do
mundo, com algo em torno de um bilhão de unidades.
“Barbie também ensina para as crianças
como elas devem se apresentar corporalmente, vendendo não só seus produtos, mas
o estilo de vida que está em alta no mercado. Desde pequenas, as crianças são
incentivadas a se apoderarem desse corpo de plástico e desejá-lo para si
mesmas.
No mundo virtual da boneca, é possível
participar de diversas atividades com a Barbie e aprender que é essencial ter
uma roupa para cada ocasião e não repetir o mesmo traje dentro de certos
espaços de tempo. Barbie e suas amigas mostram como a mulher pode ficar mais
bonita e descolada ao usar roupas que valorizam as formas femininas mais
admiradas socialmente.”[13]
A boneca fatura no cinema e no mundo dos desenhos animados, também comercializada em “pacotes” dos produtores/criadores/detentores de seus direitos, vendidos às redes de televisão abertas ou a cabo no mundo inteiro. Bolsas, mochilas, material escolar, roupas, estojos de maquiagem, salão de beleza portátil, bicicletas, mini casas com todas as suas dependências e aparelhos eletrodomésticos, animais de estimação, games e jogos, televisão, computadores, celulares etc.
No
Brasil, quando acessamos o site da
Barbie[14]
a tela do computador vai “explodindo” em imagens ao som da música “Barbie Girl”[15],
do grupo Aqua[16], que foi enorme sucesso
mundial em 1977. O site oferece todos
os produtos ligados à boneca e ao seu mundo. A letra da música em questão canta
um diálogo entre ela e seu namorado, Ken, que a convida para uma “festa”. Estes
diálogos seriam possíveis entre os jovens da era rock’n’roll, do tempo da
discoteca e adaptado de um jeito ou outro para todos aqueles que curtem a vida
com a “imaginação” que a Barbie tem:
Garota Barbie
-Oi
Ken!
-Quer
ir dar uma volta?
-Claro
Ken
-Pule!
Eu sou uma garota Barbie no mundo Barbie
A
vida no plástico é fantástica
Você
pode escovar meus cabelos, me despir em qualquer lugar
Com
imaginação, a vida é sua criação
Vamos
lá Barbie, vamos para a festa!
Eu
sou uma garota Barbie no mundo Barbie
A
vida no plástico é fantástica
Você
pode escovar meus cabelos, me despir em qualquer lugar
Com
imaginação, a vida é sua criação
Eu
sou uma loira assanhada, Num mundo de fantasia
Me
vista, bem apertado,Eu sou sua bonequinha
Você
é minha boneca, rock'n'roll
Sinta
o glamour vestida em cor de rosa
Você
pode me tocar, pode brincar
Se
você disser: "Eu sou sempre seu"
Eu
sou uma garota Barbie no mundo Barbie
A
vida no plástico é fantástica
Você
pode escovar meus cabelos, me despir em qualquer lugar
Com
imaginação, a vida é sua criação
Vamos
lá Barbie, vamos para a festa
Ah
ah ah yeah
Vamos
lá Barbie, vamos para a festa
Ooh
wow, ooh wow
Vamos
lá Barbie, vamos para a festa
Ah
ah ah yeah
Vamos
lá Barbie, vamos para a festa
Ooh
wow, ooh wow
Me
faça caminhar, me faça falar , faça o que bem entender
Posso
ser como uma estrela, posso ficar de joelhos e implorar
Venha
suba, amiga danadinha, vamos repetir outra vez
Vamos
para a cidade, curtir, vamos para a festa
Você
pode me tocar, pode brincar
Se
você disser: "Eu sou sempre seu"
Você
pode me tocar, pode brincar
Se
você disser: "Eu sou sempre seu"
Oh,
estou me divertindo tanto
Bem
Barbie, estamos apenas começando
Oh,
Eu te amo Ken![17]
Segundo Rovari[18] (2007), “a menina somente pode acessar o site se seus responsáveis responderem a uma mensagem da Mattel autorizando sua filha a participar das atividades do sistema. Para isso, um comunicado de esclarecimento é enviado aos adultos. O site é constantemente “monitorado” para que sejam garantidas interações “apropriadas” entre as crianças, e estas com o espaço da Barbie.
O controle sobre os produtos da “marca” Barbie vai mais além. As empresas que detêm o controle da produção e veiculação dos desenhos animados, por exemplo, têm uma rede no mundo inteiro por onde as histórias e comerciais da Barbie são assistidas pelas crianças. Mas, também no mundo digital os verdadeiros “donos” da Barbie querem ter um controle absoluto do uso da imagem da boneca, reivindicando direitos autorais. Vejamos por exemplo, uma nota:
“A preocupação com as questões de copyright às vezes beira a paranóia. Por toda a Internet, grandes companhias estão atacando qualquer uso não autorizado de suas marcas, aparentemente de forma gratuita: a fabricante de brinquedos Mattel está indo atrás de qualquer um que use o nome ‘Barbie’. Canais de televisão e estúdios de cinema estão pegando no pé de fã-clubes que publicam imagens, sons e informações sobre seus filmes e programas. Gravadoras proíbem a circulação de letras de músicas de seus discos”.
Eu acredito que as fãs, meninas acompanhadas de seus pais, não sabem nada desses debates, controles e questões de mercadológicas quando formam filas imensas nos shopping centers para visitar o estande da Barbie, segurando suas próprias bonecas. Elas não sabem nem mesmo como a boneca foi entrando na vida das crianças, e das meninas.
A boneca do sagrado ao profano
No entanto, também creio que lembrar sobre a história social do brinquedo e a “trajetória” das estatuetas, desde os tempos primitivos ao das deusas dos tempos antigos, ajuda a entender a história da “boneca” como brinquedo. Representado o sagrado e a devoção para os seres humanos naqueles tempos, a outrora imagem antropomorfizada se “profaniza” e ganha contorno de “boneca”, como brinquedo das crianças a partir do século XIV. Nesse período é que na Europa se inicia a fabricação de bonecas como brinquedo para crianças, mas que a Pedagogia dos séculos seguintes reforça como brincadeira específica e preferida das meninas.
Isso nos ajuda a compreender a influência da Barbie nos tempos atuais, e o “fascínio” que exercem sobre nós, crianças e adultos. Ajuda a pensar se a boneca não seria, no fundo, a réplica de nós mesmos. E, uma pergunta fica no ar: as bonecas tornaram-se para as crianças o que o ídolo/imagem foi para seus ancestrais, o espelho de uma invisível realidade interior? No ato de brincar, no momento lúdico, se revela alguma coisa do caráter espiritual da criança?
De qual “espírito da coisa” está imbuído o ato de brincar especialmente com a Barbie, a partir de nossa compreensão do mundo como adultos? Acriança que brinca com qual boneca seja “não está nem aí” para isso, e brinca porque ali se revela “algo” de contato com aquela relação sagrado-profano que não percebemos mais em nós mesmos?
A influência barbiniana
A influência barbibiana se dá num contexto de configuração do poderio estadunidense tanto nos círculos políticos e econômicos, quanto nos setores educacionais e culturais no mundo pós II Guerra Mundial, quando não faltam estudos sobre isso. É a própria configuração e hegemonia de um pensamento capitalista a partir do que “é bom para os estados Unidos”. No que a Barbie ajudou nesse “pensamento”?
“Coqueluche” ou brincadeira de crianças e/ou lucros para adultos, não faltaram influências da boneca até na indústria da moda, vestida por estilistas mundialmente famosos. Ela já foi apresentada ao público em 108 profissões e 50 nacionalidades, às vezes em versões limitadas que, no mercado de colecionadores, podem valer alguns milhares de dólares.
Roveri[19]
ainda afirma no seu texto que
“à Barbie são dadas identidade e presença no mundo. O Pentágono
presenteou-lhe com uma coleção de trajes militares, ela tem até uma versão de
cera no Museu Grévin em Paris e, em seu nome, seus seguidores fazem convenções
nacionais. Barbie é vestida e fotografada por gente famosa, tem mais de 500
estilos de maquiagem profissional, possui casas, carros, amigas, namorados e um
mundo fashion com seu nome. Uma “indústria de sonhos” faz da Barbie o que
quiser!”
Para garantir que crianças ao redor do mundo não deixem de comprar e adorar a Barbie, quero dizer, deixem de brincar com boneca mais famosa e mais vendida, ela também é oferecida em versões de “etnias” diferentes. Sempre longilínea, magra, sem celulite ou estrias, cabelos volumosos bem penteados, no padrão de sua “original” branca e americana. Congelada na idade favorita desse mercado que faz idolatria à juventude eterna.
A Barbie “vende” um estilo de vida e as crianças são estimuladas a não apenas comprar a boneca, mas também a sonhar com esse “american way of life” para suas próprias vidas infantis. Se os pais não sabem disso, pelo menos compram as bonecas, porque as criança assim o querem.
No Jornal da UNICAMP, Luiz Paulo Juttel cita o trabalho de Rovari, destacando observações como:
“até a época do lançamento de Barbie, os
comerciais televisivos de brinquedos eram dirigidos apenas aos pais. A inovação
da Mattel consistiu em dialogar diretamente com as crianças.
(...) o forte trabalho de marketing do casal Ruth e Elliot Handler deu certo. Pouco tempo após seu lançamento, Barbie já era líder em vendas, posto que mantém até os dias de hoje”.
Assim, a partir dessa “jogada” publicitária e de marketing, podemos compreender como os comerciais veiculados na televisão iniciam uma nova estratégia até então desconhecida: o de falar diretamente às crianças. O que parece ter sido copiado, desde então, pelos fabricantes de brinquedos em especial.
Juttel ainda ressalta do trabalho de Rovari aspectos que dizem respeito à esfera econômica, das relações trabalhistas e de trabalho escravo disfarçado na busca pela redução de custos e aumento de lucro, perfazendo as características do capitalismo hegemônico nesse mundo globalizado:
“atualmente 65% dos brinquedos da Mattel são fabricados na China. O restante é feito na Indonésia, Tailândia, Malásia e México. Nesses países, aponta a pesquisadora, é imensa a lista de ações que atropelam os direitos trabalhistas, a começar pelos baixos salários. Nos EUA e Alemanha são pagos de U$ 10 a 18,50 por hora ao trabalhador industrial. Na China paga-se, em média, U$ 0,87.”
Concordo
com Roveri quando ela conclui que
“meninas aprendem que a beleza é a condição para que adquiram
visibilidade social. Cada vez mais novas, as crianças desejam transformar seus
corpos de acordo com os moldes de Barbie, na fantasia de que o mundo fashion da
boneca possa corresponder às suas vidas. Nessa ideologia, há estreita ligação
entre ter o que é da Barbie e tornar-se a própria Barbie: vestir suas roupas,
usar seus acessórios e sapatos iguais aos seus, significa conseguir o mesmo
corpo, o incrível sucesso, o luxo e o prestígio da boneca”.
Oliveira
e Argollo (2009, Pág 4) aprofundando na questão da “sociedade do consumo” em
Baudrillard, afirmam:
“mesmo que não possa ser efetivamente praticado, o consumo está presente nas crenças, hábitos e desejos existentes. As mercadorias constituem o fundamento da existência do consumo e, através delas, os indivíduos comunicam-se com a sociedade e sentem-se nela incluídos. O ato de adquirir um bem, ou simplesmente desejá-lo, torna os indivíduos “iguais” aos outros membros do seu grupo sócio-cultural, ou mais ou menos, ‘distintos”.
A partir do exposto acima, quase começo a acreditar que parece que todos nós nascemos livres e iguais, mas para consumir. Como não resistir aos apelos para a realização de um sonho que nos faz pensar que somos mais bonitos, bem vestidos, em uma casa que tem tudo, que a vida é uma festa? Como não consumir, ou não querer consumir o que nos torna “melhores” para estarmos “incluídos” e bem colocados, com status nessa sociedade, mesmo quando somos apenas crianças? E, quando crescemos?
No estudo do cinquentenário da Barbie, nas análises da fantasia e consumo de produtos por crianças, eles destacam do apelo a que crianças são submetidas pelo meio de comunicação/informação/entretenimento com o qual têm mais contato:
“A prática do consumo é incentivada por todo o sistema sócio-econômico além do cultural. Em época de Natal, São João e outras datas comemorativas nacionais e regionais, por exemplo, a pressão de consumo é intensificada. Os shoppings e o comércio ficam lotados e o horário de atendimento é prolongado. Não se pode deixar de destacar a importância da publicidade como um dos elementos moldadores de comportamentos na atualidade. A televisão e os demais meios de comunicação, através do discurso publicitário, exercem grande pressão para que consumamos. Independentemente de classe social, raça ou cor, a maioria das pessoas participa ou tem o desejo de estar incluído neste sistema repleto de símbolos - dentre elas, as crianças. (Oliveira e Argollo, 2009, Pág. 5)
Se o mundo está assim, o que fazer senão parar e refletir um pouco sobre o mundo em que vivemos? O que fazemos no mundo, o que fazemos para o mundo? É possível parar, refletir e, depois disso, saber qual o mundo que queremos? O que fazer para refrear essa pressão a que somos submetidos para consumir?
E, se individualmente compreendemos isso tudo, como é possível socializar o que foi refletido e tentar mudar alguma coisa, ainda que a Barbie continue sua jornada de conquistar corações de meninas e o mundo por mais 50 anos? Como a Barbie se reinventará, assim como remodelará suas estratégias de marketing e campanhas publicitárias em um mundo que vive uma crise econômica generalizada?
O que a escola tem a ver com
tudo isso, quando às vezes se observa que muitas alunas do curso de Pedagogia,
além de professoras da escola, apresentam o mesmo estilo “Barbie way of life”,
no vestuário, no pensamento pedagógico, e na relação com estudantes e crianças?
Uma parada: Recentes notícias da Barbie aos 50 anos
“Contra crise, Barbie prepara loja de 6
andares em Xangai
A Barbie tenta contra-atacar sua queda de
vendas com uma loja de seis andares em Xangai, a primeira desse tipo no mundo e
com a qual seus fabricantes esperam inaugurar uma nova era em seus 50 anos de
história. A loja será inaugurada na sexta-feira e, em seu primeiro dia de
funcionamento, convidará as meninas a desenhar bonecas, mimará mães e filhas
com tratamentos faciais e oferecerá um jantar em um restaurante, com direito a
um drinque no ''bar da Barbie''.
"Trata-se da Barbie. Não devemos nos
limitar a apenas uma coisa quando temos ante nós um mundo de oportunidades.
Beber no ''bar da Barbie'' já é divertido só de ouvir falar", comenta
Richard Dickson, diretor da marca, controlada pelo fabricante americano Mattel.
A Mattel quer converter sua boneca - que
esta semana vira ''cinquentona'' - em um padrão de estilo de vida para as
meninas chinesas, reunindo na loja mais de 45 categorias de produtos em sua
homenagem.
Apesar de registrar uma queda das vendas
de 21% no quarto trimestre de 2008 em todo o planeta, a Mattel confia que a
nova loja será crucial para converter sua boneca no brinquedo preferidos das
meninas chinesas.
Atualmente, o gigante asiático concentra
2,5% das vendas mundiais da Barbie, segundo Dickson. "Mas, em cinco ou dez
anos, a China se converterá no mercado número um para a marca", afirmou.
"Aqui temos uma oportunidade única de crescimento, que tratamos como uma
estratégia a longo prazo".
E Xangai, uma cidade apaixonada pelo
glamour e habitada por mulheres atraídas pelos produtos de grife, é o ponto de
partida natural, acrescenta.
A loja não poderia ser mais ao estilo
Barbie: escadas rolantes cor de rosa, um girau adornado com quase 900 Barbies
exibindo modelos únicos e reproduções exatas à venda de todas as bonecas da
história da marca.
Um departamento de design permite que os
clientes usem computadores para idealizar sua boneca favorita, escolhendo a cor
da pele, do cabelo e da roupa. Em outra área, as meninas podem brincar provando
os trajes em tamanho real do vestuário da Barbie.
Também podem fazer as unhas ou o cabelo em
um spa e até tomar um sorvete com em um bar decorado como se fosse uma
avenidade com lojas da moda. Há ainda um restaurante no último andar, sob
responsabilidade do famoso chef australiano David Laris.
Apesar de a Mattel planejar abrir novas
lojas no mundo, é pouco provável que alguma alcance o esplendor da de Xangai,
segundo Dickson.
O fabricante americano segue assim o
exemplo de outras marcas, como a Appel Computers e a Ralph Lauren, que, com
lojas descomunais, pretendem estabelecer uma relação direta com os clientes”.[20]
“Barbie em
mais duas edições
No dia 9 de março a boneca mais famosa do mundo completou 50 aninhos
muito bem vividos, mas o que ela representa na história ultrapassa o papel de
um simples brinquedo. A Barbie faz
parte do imaginário infantil de muitas gerações em todo mundo e já influenciou
e inspirou milhões de pessoas e ninguém pode negar a sua importância.
A Kartell comemora os seus 60 anos ao lado desta boneca cinquentona
lançando uma coleção especial em grande estilo. A empresa apresentou sua
coleção no Salão Internacional do Mobiliário em Milão e no dia 21 de abril
aconteceu um grande evento no stand transformando-o na casa da Barbie em
tamanho real. Podem imaginar?
A Barbie em tamanho natural veste roupas Moschino e sapatos bailarina cor de rosa e branco de plástico da empresa Norma Luisa. Linda e acompanhada dos móveis exclusivos da Kartell. A vedete da coleção é a cadeira Louis Ghost criada pelo Philippe Starck em 2002 que é inspirada na clássica cadeira Louis XVI e ganhou uma nova versão especial em policarbonato rosa transparente e com a cabeça da Barbie desenhada no encosto. Cada cadeira sai por €235 (R$690) e também possui uma versão mirim especialmente para crianças por €95 (R$280).[21]
E ainda,
“Barbie & CIA
Ela continua a mesma, mas com uma nova roupagem, digamos, mais conectada
ao século XXI. Chega às lojas deste ano, mas precisamente no Natal, a boneca
Barbie Engenheira de Computação – a 126ª da coleção. A Computer Engineer Barbie foi uma
das duas profissões selecionadas por um concurso promovido pela empresa Mattel,
via internet. Em segundo lugar, os votantes elegeram a Barbie âncora de
noticiário.
Com o lançamento da Barbie Engenheira de Computação, a empresa espera
“inspirar uma nova geração de meninas a explorar esta importante indústria
high-tech, que continua a crescer e precisa de futuras líderes femininas”.
Para criar o guarda-roupa da nova Barbie, a fabricante disse ter tido a
ajuda da Sociedade de Mulheres Engenheiras dos EUA e da Academia Nacional de
Engenharia. A Barbie engenheira virá com smartphone, fone Bluetooth e laptop
com maleta, além de um suéter com zeros e uns, em referência à linguagem
binária dos computadores.” [22]
Barbie Engenheira de Computação, descolada, engenheira, com celular Bluetooth e laptop... “Âncora de noticiário”...
No Youtube já fizeram o Pokémon, Naruto, os Patrinhos Mágicos, o Avatar, Sonic, a Branca de Neve e outras personagens da Disney além de outros famosos cartoons cantarem aquela música “Barbie Girl”. Até inventaram há pouco a Barbie Streisand. Mas, ainda não fizeram a boneca Barbie Extraterrestre, ou a Barbie a la Avatar de James Cameron. Ainda não.
A Barbie e o barbado
Eu mesmo que brincava de bola, de carrinho, de casinha, de tudo com minhas primas e primos, irmã e irmão, ia ao cinema e ao teatro, gostava muito de TV, ia à escola e também aprendi a cantar “Hi-Lili Hi-Lo”, eu que destruía as bonecas de minha irmã também brincava com os bonecos e bonecas, fazendo como que naquelas antigas revistas de fotonovelas em quadrinhos dos anos 60. Em oficinas de educação e comunicação, incentivava as crianças (e as vezes adultos) a criarem as suas próprias fotonovelas, com suas histórias e textos que preenchiam nos “balões” de diálogo. E das suas histórias tínhamos um “mote” para outras discussões e ações.
Depois de adulto, quando nas bonecas e nos bonecos encontrei um “elo” que me aproximava das crianças nos momentos de fazer contato com elas, no exercício da profissão docente, “re-inventei” as minhas próprias Barbies, transformando-a numa Accla, sacerdotisa dos Incas, numa guerrilheira das FARC, às vezes Zapatista com seu namorado Subcomandante. Isso porque achava meio irreverente pegar uma boneca que simbolizava uma ideia hegemônica de estilo de vida e de mundo, para combater isso mesmo, de uma maneira bem-humorada.
Como uma série de bonecos foi se inventando na mesma escala 1:6, eu fazia deles os pares das respectivas Barbies, inclusive as que modifiquei como latino-americanizadas. Na universidade, fazia montagens irreverentes com as bonecas Barbies que se pareciam no vestir com tantas colegas estudantes de diversos cursos. Na verdade, não sabia se as bonecas se pareciam com as colegas, ou se estas é que se pareciam com as bonecas.
Nestes anos, nas minhas andanças pelas prateleiras das lojas de brinquedos nunca encontrei um bonequinho “masculino”, quando era possível encontrar uma infinidade de bonecas “mulheres”, para servirem de filhos dos casais que eu formava para aquelas oficinas. Naturalmente que, politicamente correto, também fazia pares de casais alternativos de boneca com boneca e boneco com boneco. Tenho até mesmo um boneco gay “superdotado” chamado Billy, de invenção norte-americana. Creio que sua superdotação queira reivindicar mais masculinidade, ou aparente preferência, em geral, de pessoas heterossexuais ou homossexuais para esse detalhe.
Não estranhamente, os bonecos “masculinos” vendidos para garotos se não são super-heróis já famosos, se apresentam sempre estourando em músculos bem definidos, com roupas militares, policiais, ou em trajes esportivos radicais. Mas nunca com os órgãos sexuais moldados em plástico no corpo, ao contrário da diferença dos seios na Barbie, e similares. A mulher é delicada, sorridente e rosa. De Vênus. O homem é forte, musculoso, viril. De Marte.As bonecas e bonecos também.
Dessintonizados no divã do analista
Acredito ter visto o que me parece a Barbie no divã do analista. Um divã rosa, diga-se... Pode ser que até mesmo a boneca tenha de ir se “analisar” alguma vez. Isso, quanto às crianças, em um mundo que valoriza tanto aquele glamour, o sucesso e o luxo rosa choque de fantasia, exaustivamente exibidos nas TVs e comerciais, não me causaria admiração se consultórios de psicólogos e psiquiatras estivessem cheios de crianças dessintonizadas entre o mundo idealizado da boneca e seu mundo real, concreto, onde vive, entre seus devaneios, aspirações infantis, e limites pelas possibilidades. Mundo onde os seres humanos são submetidos em sua maioria a, por exemplo, condições desumanas de trabalho e privados de condições básicas de qualidade e dignidade de vida, inclusive para os trabalhadores da educação: professores que as pesquisas indicam estar ficando cada vez mais doentes durante o seu exercício profissional.
Nem mesmo me admiraria de que as escolas e educadores, em sua maioria, não soubessem do que co-existe de real e irreal - e pesadelo - na história dessa boneca e de seu mundo. Do mesmo modo, temo que as pesquisas sobre todos esses temas, mais ainda do consumismo entre crianças, não têm chegado à sociedade e nem às escolas como forma de possibilitar maior conscientização e participação dessa mesma sociedade no combate aos exageros, ao que pode se dizer “doentio”.
Nós, educadores que temos tantas pedras para jogar na figura dos atualmente denunciados pedófilos, nos fazemos tão “doentios” quanto estes quando nos entregamos tão fervorosamente aos “anúncios” dos profetas do consumismo. Também não tratamos de construir novas posturas, críticas e criativas, em relação aos meios, e à televisão. Quando fechamos os olhos para essa realidade nos tornamos “pedagófilos”, “professando” e “professorando” deixando que a mídia literalmente assedie as crianças, retirando delas o direito à sua infância sem o consumismo que os “adultos” criaram no mundo.
Tsc.. Tsc... Tsc... que cabem aqui, ou
Considerações sobre o real e o imaginário que a gente muda
O que é infância? O que é criança? Onde ficam as alegrias da criança e da infância que mal sabe do “mundo” que as espera? Lá dos primórdios da história matriarcal, do mundo daquelas deusas de pedra que os antigos reverenciavam, passando pelo Olimpo ao céu das igrejas, às estrelas do universo, há algum anjo ou um ser superior que vela pelas crianças que chegam ao mundo em cada tempo? Brincar é algo tão intrínseco, faz tanta parte de nossa natureza como seres, que até os animais também brincam? Brincar é cultura? Brincar é biológico?
(...)
Brincar é permitido?
(...)
O que é essa coisa de “lei da selva”? Qual é o instinto de conservação em jogo nessa selva de animais e homens? Será a guerra de todos contra todos? Quem tem mais esperteza: a raposa ou o lobo?
(...)
Toda essa história de crianças, homens e mulheres, mundo, é/são questão/questões de moral/morais, verdade/verdades? Qual/quais? Ou de valores? Mas, quais valores?
(...)
Aqueles anjos-crianças pintados ou esculpidos nas catedrais estariam, na verdade, brincando e querendo brincar?
(...)
O mundo que espera as crianças é esse em que a ciência, religião e filosofia “brigam”, onde Deus e Mamon disputam um “céu” onde tudo é mercadoria, e que só o consumismo pode comprar?
(...)
As pessoas em seus diferentes contextos culturais, sob o império do sistema capitalista, não são “formatadas” sob uma mesma matriz: a de serem pessoas aptas ao consumo?
(...)
A boneca é fetiche? A boneca é mercadoria? A criança é mercadoria? Somos réplica, imagem e semelhança dessa mercantilização de tudo e todos, fazendo da boneca a réplica de nós mesmos?
(...)
Naquela música da “Barbie
Girl” o Ken não está “cantando” a boneca quando lhe chama para curtir a vida, e
curtir muito mais na vida num trocadilho de versos?
“Vamos para a cidade, curtir, vamos
para a festa
Você pode me tocar, pode brincar
Se você disser: "Eu sou sempre seu"
Você pode me tocar, pode brincar
Se você disser: "Eu sou sempre
seu"
Oh, estou me divertindo tanto
Bem Barbie, estamos apenas começando
Oh, Eu te amo Ken
(...)
Mas, os homens alemães depois
da II Guerra Mundial compravam uma boneca que lhes lembrava uma garota de seus
sonhos? E essa boneca lhes servia de amuleto? E esse fetiche se tornou um
brinquedo para crianças? Que coisa mais esquisita e, digamos, que só Freud
explica...
Apaga tudo!
(...)
Na China, se firmando como superpotência comercial com seu sistema de “socialismo de mercado”, os patrões bilionários pagam aos trabalhadores das fábricas um pouco mais por hora de trabalho do que se destinaria à “manutenção” de um escravo. E, a Mattel está “de olho” no bilhão de crianças consumidoras desse potencial mercado chinês para sua estrela das vendas: a Barbie. Quanto custará uma boneca de olhos puxados por lá?
(...)
O que é que a criança e infância têm de tão maravilhoso, ou amedrontador, que nos encanta e preocupa ao mesmo tempo? Se sabemos de onde vêm os bebês, sabemos de onde vem a infância?
(...)
Assim como os adultos, as crianças ficam psicóticas? A televisão “psicotiza” e hipnotiza a gente, ou nessa sociedade dos valores dominantes do consumismo tudo é normal?
(...)
Enfim, o “homem” não nasceu mesmo intrinsecamente bom e, não foi a “sociedade” que o perverteu? Que “culpa” têm as crianças ao redor do mundo das mazelas criadas pelos adultos antepassados? Rousseau não tinha e tem razão de criticar a sociedade moderna? Quem é esse “bom selvagem”? Quem e em que selva era a “criança” de Rousseau?
O que o Emílio faria se existisse a televisão assediando naquele tempo? O que faria um “Emídio” nos tempos da Mídia-Educação?
(...)
O que nessa existência é essencial?
(...)
Qual é a moral dessa história?
(...)
Que valores damos a uma boneca como a Barbie?
(...)
Pergunta: Por que uma Barbie
sempre “foi” tão cara?
Resposta: porque “mais-valia” o lucro sobre custos de uma boneca na mão que duas mofando no estoque.
Considerações finais
Receio que, em sua maioria, homens e mulheres, também os pais e educadores, vejam com a maior naturalidade as crianças sorridentes brincando com suas bonecas, e saiam depois correndo às lojas, orgulhosos para presenteá-las com o mais recente modelo e acessórios da Barbie quando se aproxima o aniversário, o dia das crianças ou o Natal. Mas também, quem é que nunca viu uma criança fazendo birra para ganhar aquele brinquedo que ela quer a qualquer custo? Ela não é incentivada a isso, com a nossa condescendência, com nossos olhos fechados?
Muitas vezes nós nos fazemos de cegos em um mundo de valores cor de rosa do consumo fácil e da oferta tentadora, quando não deciframos os “mistérios” de como a TV, as novelas, seriados, telejornais e os comerciais/propagandas falam de um mundo específico, e nos influenciam os gostos, os valores, a imaginação, as fantasias e os desejos para nós mesmos, nossos filhos ou alunos. Quando isso se dá, a realidade, o “como” as coisas acontecem nesse mundo são tomados como algo natural, que sempre foi e assim será. A propaganda fala disso, incentiva isso, cria essa realidade para nós. E, muitas vezes, parece que diante disso tudo nós apresentamos uma passividade ora cínica, ora se fazendo de impotente. E, então, vivemos como podemos: individualistas e isolados.
Entretanto, mesmo nessa aparência de inércia há a luta pela dignidade, pelas garantias e proteção dos direitos das crianças na sua relação com a TV e o consumismo. E indivíduos, famílias e educadores organizados na sociedade podem e devem resistir como fazem, do jeito que podem, os institutos de defesa do consumidor, os fóruns de defesa dos direitos humanos, os que combatem na linha de frente de uma educação libertadora de todas essas amarras.
Na comunidade escolar ampliada podemos atuar pedagogicamente na perspectiva da Mídia-Educação, no exercício cotidiano da profissão docente trabalhando com os meios, para os meios e através dos meios, promovendo assim a “construção do pensamento crítico” (Fantin, 2006, Pág. 100), que possibilitariam à criança não só o exercício de seus direitos inalienáveis, mas também o seu “direito à cultura, à crítica, à criação e à cidadania” (Idem) e, sobretudo o seu direito mais sagrado da infância: o de brincar.
Brincar de tudo e brincar de
nada... oras!
Não “tás” vendo que é isso mesmo? Só não enxerga quem não vê!
A menina em mudo diálogo brincando no Campeche, longe da TV, muda a nossa percepção. Muda a nossa direção. E, como um barquinho que sai descobrindo e lendo todos os mapas, de todo os mares, da Arte e seus mistérios nunca dantes revelados, seguimos brincando em frente.
Brincadeira de criança é assim: Arte que se enxerga apenas com os olhos que sabem o que é essencial. Algo que bem sabem as raposas e príncipes, aviadores, pescadores, viajores, leitores, escritores, meninas e mulheres de almas antigas e sábias. Crianças a quem, respeitosamente, beijamos as mãos em verdadeira e suave veneração...
E, enquanto isso, entre os altos e baixos da crise internacional, a boneca Barbie bate recordes de vendas ano a ano, e se firma como marca da exploração da criança neste mundo consumista em que vivemos.
Nessa civilização ocidental que se globalizou, que a televisão “vende”, somos cegos que vêm o mundo através da televisão, e quase mais nada vemos. Somos marionetes. Na selvageria desse mundo cor de rosa capitalista, homens lobos de homens, a outrora imagem da deusa, que virou estátua e depois se tornou boneca e brinquedo, foi finalmente re-endeusada...
10 mai 2010
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[1] In PIACENTINI, Telma.Brincadeiras infantis na
ilha de Santa Catarina.
[2] Debate “Televisão e
Educação” no “Programa Salto para o futuro”, disponível no site da TVE Brasil.
http://www.tvebrasil.com
[3] Idem
[4] O
Instituto Alana é uma organização sem fins lucrativos criada em 1994 que tem
como missão fomentar e promover a assistência social, a educação, a cultura, a
proteção e o amparo da população em geral, visando a valorização do homem e a
melhoria da sua qualidade de vida, conscientizando-o para que atue em favor de
seu desenvolvimento, do desenvolvimento de sua família e da comunidade em
geral, sem distinção de raça, cor, posicionamento político partidário ou credo
religioso. Site: http://www.alana.org.br/
[5] O Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, foi criado em 2005 para divulgar e debater questões referentes às relações de consumo que envolvam crianças e adolescentes, em especial para fomentar a reflexão sobre as conseqüências do consumismo que cada vez mais atingem essa parcela da sociedade. Para isso, conta com uma equipe interdisciplinar dividida em três áreas de atuação: Jurídico-Institucional, Educação e Pesquisa, Comunicação e Eventos.
http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Comunicacao.aspx?v=4
[6] Mattel Inc.é a
maior produtora de brinquedos do mundo, que produz dentre outros, os brinquedos
de carrinhos Hot Wheels e Matchbox, e a linha Fisher Price para crianças
pequenas, além da Barbie. http://www.mattel.com/
[7] Ver também:
http://en.wikipedia.org/wiki/Bild_Lilli_doll
[10] Letra e vídeo com Leslie Caron em http://www.lyricsmode.com/lyrics/l/leslie_caron/hi_lili_hi_lo.html
Versão em
português com Trem da Alegria e, também com Gal Costa:
http://www.muitamusica.com.br/359-gal-costa/24649-lili-hi-lili-hi-lo/letra/
[11] http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasinfantis/509303
[12] Tema abordado em sua dissertação de mestrado e aqui num texto da Revista Pontocom: Barbie: 50 anos ditando a moda das meninas.
[13] Tema abordado em sua dissertação de mestrado e aqui no texto da Revista Pontocom: Barbie: tudo o que você quer ser... ou Considerações sobre a educação de meninas.
[16] Banda formada em 1989 na Dinamarca, por dinamarqueses e noruegueses. A música que mais fez sucesso foi Barbie Girl de 1997 do álbum Aquarium. A banda dominava o cenário musical e as paradas mundiais nos anos 90 junto com Spice Girls e Backstreet Boys. Barbie Girl é uma das músicas mais famosas e mais ouvidas do mundo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aqua_(banda)
[17] Versão com trechos duplicados
excluídos. Tradução em http://letras.terra.com.br/aqua/1815/traducao.html, e
cantada em inglês no vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=_dGcYH6Fwj8. Música
com legenda em inglês: http://www.youtube.com/watch?v=ebno9Rt0beU
[18] Artigo reelaborado a partir do trabalho “A Boneca Barbie e a Educação de Meninas – Um mundo de disfarces”
[19] Barbie: menininha quando brinca põe a mão no coração?
[20]
http://noticias.terra.com.br/interna/0,,OI3615866-EI8177,00.html
Ver também
o vídeo da loja da Barbie em Shangai:
http://www.youtube.com/watch?v=CQkYyHnzmjc e o site da Barbie The Ladies Club:
http://www.barbiestheladies.com/
[22] Barbie em mais duas
edições. http://www.revistapontocom.org.br/edicoes-anteriores-ponto-central/barbie-em-mais-duas-edicoes
Um excelente artigo: parabéns!
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