segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O mistério dos brinquedos antigos que está intrigando cientistas

 

O mistério dos brinquedos antigos que está intrigando cientistas

Amanda Ruggeri
BBC Future
27 agosto 2022

O arqueólogo americano Gus Van Beek (1922-2012) passou duas décadas escavando a antiga cidade assíria de Tell Jemmeh, que foi habitada há cerca de 2.200 a 3.800 anos, na região que hoje corresponde ao sudoeste de Israel.

Van Beek recuperou tantos objetos que o Instituto Smithsonian, nos Estados Unidos, levou 40 anos para catalogar todos. Havia moedas, escaravelhos, amuletos e uma imensa coleção de cerâmica — tão grande que parte dela precisou ser descartada posteriormente.

Mas, para Van Beek, "entre os mais enigmáticos objetos recuperados", o local trouxe uma descoberta: 17 pequenos discos arredondados — alguns feitos de giz, outros de pedra, mas a maioria de cacos reciclados — com dois orifícios propositais no centro.

Van Beek não foi o primeiro arqueólogo a descobrir objetos como esses. E nem o último. Eles foram encontrados em sítios arqueológicos no Japão, no Egito, na Índia e no continente americano, entre outros locais.

Três desses objetos foram encontrados na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, no mesmo local onde ficava um acampamento do Exército britânico durante a Guerra da Independência americana (1775-1783) — um deles, feito com uma moeda. E já foram encontrados, em outros lugares, objetos similares datados de 4 mil anos atrás.

Alguns arqueólogos acreditam que esses objetos fossem botões. Para outros, eram pesos de teares, cerâmica perfurada ou foram simplesmente classificados como "objetos diversos".

Mas, para Van Beek, eles relembravam outra coisa. "Eu me lembrava de brincar, quando era criança, com um objeto similar", observou ele.

Passe um cordão pelos orifícios, estique e relaxe o cordão e o disco irá girar. Van Beek deu aos objetos o nome que eles tinham quando ele era criança — buzzes ("zumbidos", em inglês) — e chegou a tentar, ele próprio, criar um deles.

Outros acadêmicos já haviam suspeitado que fossem brinquedos, mas havia também os céticos. Confiar nas próprias memórias da infância e projetar nossa experiência moderna em uma sociedade distante parecia, no mínimo, um procedimento pouco acadêmico.

O mistério dos brinquedos antigos de Van Beek é apenas um dos muitos quebra-cabeças arqueológicos relacionados às brincadeiras infantis. Ele ilustra muitas das armadilhas que encontramos ao estudá-las.

Nós sabemos que as crianças brincavam e, muitas vezes, com objetos. Mas outras questões, como quais objetos elas usavam e de que forma, permanecem muito difíceis de responder.

Tão difíceis, na verdade, que inspiraram a "piada dos arqueólogos". Um arqueólogo encontra um pequeno objeto. "O que é isto?", ele pergunta. "Não sei", responde outro. "Deve ser um brinquedo... ou um objeto religioso."

A piada pode não ter graça, mas entender como as crianças brincavam é importante — até porque esse entendimento é parte de um debate que já dura décadas: o que a infância realmente significava para as gerações passadas, se é que ela tinha algum significado?

Nos anos 1960, o historiador amador francês Philippe Ariès (1914-1984) publicou a teoria de que, na maior parte da história, a mortalidade infantil era alta demais para que os pais investissem muito nos seus filhos em termos de sentimentos e recursos. Por isso, as crianças eram tratadas como adultos em miniatura.

E esse tratamento se estendia às brincadeiras. Ariès escreveu que, depois da primeira infância, as crianças não tinham mais brinquedos e jogos específicos para elas. Por isso, elas brincavam com os mesmos objetos dos adultos.

Embora os acadêmicos tenham desmentido grande parte da teoria de Ariès, muitas das suas crenças ainda persistem. E os arqueólogos, particularmente os que estudam a infância, vêm apresentando opiniões diferentes. Um dos pilares da sua argumentação tem a ver com as suas descobertas sobre as brincadeiras das crianças.

"Tem se dito com muita frequência que não havia o sentimento da infância — que a infância era uma fase da vida que você precisava atravessar o mais rápido possível para chegar à idade adulta, quando você 'existe' por completo", afirma Véronique Dasen, professora de Arqueologia Clássica e História da Arte da Universidade de Friburgo, na Suíça. Ela é líder do projeto Locus Ludi, apoiado pela União Europeia, que estuda jogos greco-romanos, e uma das editoras de um livro sobre brincadeiras antigas, a ser lançado em breve.

"Mas isso não é verdade", segundo Dasen. "Existe algo especial entre as crianças e esse valor especial é revelado pelo seu prazer em brincar. E os adultos reconheceram isso."

Um dos problemas é que, historicamente, a infância é ignorada pelos acadêmicos.

"O mundo das crianças foi excluído da pesquisa arqueológica", escreveu a arqueóloga norueguesa Grete Lillehammer na sua obra de referência A Child is Born: The Child's World in an Archaeological Perspective ("Nasce uma criança: o mundo infantil em perspectiva arqueológica", em tradução livre), publicado em 1989.

Para ela, "poucos arqueólogos examinaram ou deram atenção a este tema, que dirá pensar nele como seu principal campo de interesse".

Mas isso não significa que as crianças não fossem uma parte importante das comunidades, nem que não houvesse atividades e objetos específicos, destinados principalmente a elas. Temos até evidências etimológicas a respeito: a palavra para "criança" em grego clássico significa "alguém que brinca".

E alguns filósofos descrevem a infância como uma etapa da vida específica, dedicada às brincadeiras.

"Platão e Aristóteles [falam] sobre a importância de brincar, como é bom para o desenvolvimento das crianças", afirma Maria Sommer, uma das autoras do livro Care, Socialisation and Play in Ancient Attica ("Cuidados, socialização e brincadeiras na Ática antiga", em tradução livre).

"Na verdade, eles escrevem para os pais: 'vocês precisam deixar seus filhos brincarem'. E é muito interessante que você não entrava na escola na Grécia Antiga antes dos sete anos. Até essa idade, você era livre para brincar", explica ela.

Mas determinar exatamente como as crianças brincavam 2 mil, 5 mil ou até 25 mil anos atrás — e quais eram os seus brinquedos — exige intrépidas pesquisas e um pouco de adivinhação bem calculada.

Questões que persistem

De um lado, a maioria dos brinquedos provavelmente era feita de materiais naturais, como madeira ou palha. Isso significa que é improvável que eles tenham sobrevivido.

Imagine bonecas feitas de canas ou jogos usando ossos de animais. Mas, mesmo com evidências arqueológicas mais duráveis, as dificuldades persistem.

Uma das indicações mais importantes empregadas pelos arqueólogos para determinar o que é um objeto e como ele é usado é o seu contexto.

Se uma xícara for encontrada em uma parte da casa onde também há pratos e colheres, por exemplo, os arqueólogos podem formular a hipótese de que ela era usada para servir ou consumir bebidas. Mas, se a mesma xícara for encontrada em um túmulo ao lado de joias e amuletos, ela pode ter sido usada para fins decorativos ou em rituais.

Mas, com os brinquedos, o contexto pode ser ainda mais incerto. As crianças brincam em toda parte, não só em áreas previamente definidas - embora possa ter havido o equivalente antigo aos salões de brincadeiras para crianças.

Só porque um objeto foi escavado em um contexto associado aos adultos, não quer dizer que ele também não fosse usado para brincar. Certos brinquedos podem ter sido objetos que também eram usados pelas crianças.

Imagine dar potes e panelas para um bebê bater. Se um arqueólogo encontrasse esses objetos daqui a 2 mil anos, ele poderia identificá-los como instrumentos de cozinha, não como objetos que uma criança com dois anos de idade passava incontáveis horas batendo alegremente.

Por outro lado, mesmo quando escavado em um contexto associado a crianças, como um túmulo infantil, isso não significa que todo objeto fosse um brinquedo. Ele pode ter sido algo de uso religioso ou cerimonial.

E, para complicar ainda mais, as culturas do passado eram muito diferentes da nossa. Tanto que a própria questão "isto era um brinquedo ou um objeto sagrado?" pode não ter virtualmente nenhum significado.

As bonecas, por exemplo. Como os buzzes de Van Beek, figurinos femininos em miniatura já foram descobertos em todo o mundo.

Escritores antigos também parecem descrever meninas brincando com objetos que podem ter correspondido às nossas bonecas modernas. Plutarco, por exemplo, lembrando-se de sua filha que morreu com dois anos de idade, conta que ela pedia à enfermeira que desse comida para seus "objetos e brinquedos", que ela convidava para ocupar um lugar à mesa.

Um tipo específico de boneca foi encontrado em sítios arqueológicos da Grécia e Roma Antiga, em santuários religiosos ou enterrado em túmulos de meninas. Essas bonecas tinham membros articulados e detalhes elaborados, incluindo penteados da moda e características de gênero de adultos, como seios (lembrando que nenhuma boneca da Antiguidade em forma de bebê foi encontrada até hoje).

A maioria dos exemplos que sobreviveram era de terracota, na Grécia, ou de osso ou marfim, em Roma - com um exemplo surpreendente feito de âmbar!

Na Grécia, as bonecas de terracota eram tão populares que chegaram a ser produzidas em massa, usando moldes. Já em Roma, as bonecas eram produzidas por centros de fabricação especializados em objetos feitos de osso e marfim.

Mas isso não quer dizer que eram as mesmas bonecas que a filha de Plutarco teria usado para brincar, segundo Dasen, que planeja uma exposição de bonecas no Museu de Yverdon, na Suíça, em 2024.

"Nós consideramos que, se parece com a Barbie, é uma Barbie. Mas não é", afirma ela.

Como a maior parte das bonecas gregas descobertas é de terracota, elas são delicadas demais para suportar brincadeiras brutas e quedas. E muitos dos moldes de fabricação foram encontrados em santuários religiosos, o que indica uma função mais sagrada.

Muitos pesquisadores concordam hoje que essas bonecas eram usadas para funções cerimoniais específicas. Elas eram dedicadas aos santuários de deusas protetoras das meninas e das mulheres adultas, como Ártemis, Deméter e Perséfone, como parte do rito de passagem antes do casamento ou durante a cerimônia nupcial, por exemplo.

Dasen destaca que korê — o outro nome de Perséfone — significa "boneca" ou "menina solteira", em grego clássico. Novamente, a mesma boneca pode ter sido usada de duas formas.

"Temos a tendência de separar o sacro do normal, mas não era assim naquela época", afirma Sommer. "Tudo era integrado. Não havia segregação entre esses dois mundos."

Mesmo nos tempos atuais, algumas culturas mantêm uma sobreposição similar. Antropólogos observaram, por exemplo, que as crianças andinas muitas vezes fazem casas em miniatura e brincam com elas. Depois, as casas são oferecidas aos deuses nos templos.

Reconstruindo os brinquedos

Como os arqueólogos e historiadores formam ideias reais sobre quais eram os brinquedos das crianças?

Em alguns casos, existem registros escritos. Uma mulher de nome Diogenis escreveu para seu irmão, 1.700 anos atrás, em Oxirrinco, no Egito: "muitas lembranças ao pequeno Téo. A mulher que você me indicou que fosse visitar trouxe oito brinquedos para ele e os enviei para você."

Existem também relatos escritos sobre Agesilau 2°, que foi rei de Esparta, na Grécia, 2.400 anos atrás. Segundo esses relatos, o rei gostava de montar com seu filho em um cavalo feito de gravetos. Já o primeiro imperador romano, Otávio Augusto, jogava bolinhas de gude com as crianças.

E existem também evidências iconográficas — ilustrações em vasos, túmulos e esculturas em relevo, por exemplo. Sommer indica uma estela da Grécia Antiga que ilustra uma criança sentada, brincando com uma bola. "De forma que não há espaço para discussão, certo? Esta bola realmente é um objeto para brincar."

E ela mostra outra imagem. "Veja este menino. Ele está brincando com um chocalho. E nós encontramos chocalhos idênticos em registros arqueológicos."

Os chocalhos eram tão populares na Grécia Antiga que chegou a haver um centro de fabricação na ilha de Chipre. Esta descoberta destaca a importância de outro indício empregado pelos arqueólogos — o mesmo usado por Van Beek ao interpretar seus buzzes: os objetos usados como brinquedos pelas crianças hoje em dia.

Um antropólogo sociocultural encontrou, por exemplo, dezenas de paralelos entre os brinquedos das crianças da África contemporânea e os encontrados na Grécia e Roma Antiga.

Se considerarmos que as crianças de hoje são como as de 3 mil anos atrás, esses paralelos podem lançar um pouco de luz sobre alguns mistérios da arqueologia, como os animais de terracota em miniatura encontrados em túmulos infantis na Grécia e Roma Antiga. Eles, muitas vezes, são interpretados como sendo simbólicos. Mas, no norte da África, as crianças fazem seus próprios animais de brinquedo em miniatura com argila e brincam jogos de faz de conta com eles.

Dasen aconselha a ter cuidado para evitar o uso excessivo desta abordagem. Em um estudo, ela faz referência a um objeto da Grécia Antiga que, em todo o mundo, parece um ioiô moderno. Ele aparece em vasos, sendo balançado no ar por crianças. Objetos idênticos foram encontrados em escavações arqueológicas.

Mas os objetos encontrados são feitos de terracota, que é frágil, e são frequentemente decorados com motivos de sedução. Eles podem não ter sido ioiôs, mas sim um iynx — um disco que era girado para tentar atrair a sorte no amor.

Os próprios chocalhos já foram contestados. E eles foram encontrados em todo o mundo.

Na Sibéria, o brinquedo de argila com 4 mil anos de idade tem a forma de uma cabeça de filhote de urso. Na Turquia, sua decoração em preto e branco é similar aos esquemas de cores contrastantes que usamos para os bebês hoje em dia.

Na Grécia Antiga, chocalhos de bronze foram encontrados em túmulos de bebês de famílias mais ricas. Alguns deles eram grandes demais e feitos de material muito frágil para serem usados por crianças pequenas.

"Mas observe todos esses pedaços de chocalhos quebrados em que ninguém prestou atenção. Eles estão nas casas, nas ruas, em lugares onde você encontraria crianças", afirma Kristine Garroway, professora especializada em crianças na antiga Israel e Mesopotâmia do Hebrew Union College de Los Angeles, nos Estados Unidos.

"Por isso, talvez haja um contexto mais amplo que foi menosprezado, simplesmente porque as crianças são menosprezadas. E talvez os adultos ou crianças mais velhas agitassem um chocalho para manter as crianças em silêncio", explica ela.

No passado, a única forma de imaginar se um objeto foi elaborado por uma criança era avaliar as imperfeições da sua criação. Mas hoje temos métodos mais científicos.

Muitas vezes, os acadêmicos interpretaram navios em miniatura como sendo objetos usados em oferendas. Mas, no sítio arqueológico Tel Nagila, em Israel, datado de 3.500 anos atrás, pesquisadores analisaram impressões digitais para determinar que muitos deles foram feitos por crianças.

Se as brincadeiras eram (e ainda são) inerentemente educativas — um "meio de desenvolver técnicas de vida", como diz Garroway, e uma forma de fomentar "o desenvolvimento da criança à medida que ela cresce para o mundo adulto" — essas embarcações eram o produto das brincadeiras.

Ao discutir miniaturas de enxadas, potes e pontas de flecha que foram encontradas em sítios arqueológicos da Idade do Bronze e do Ferro na Dinamarca, Grete Lillehammer chegou a uma conclusão parecida — que os objetos provavelmente serviam para brincar e para educar. Já pequenas pontas de flecha encontradas em um túmulo infantil do período mesolítico em Stateholm, na Suécia, podem ter sido usadas para treinar as crianças.

E pesquisas mais recentes incluíram instrumentos para disparar lanças com 1.700 anos de idade, com tamanho dimensionado para crianças. Eles foram encontrados onde hoje fica o Estado de Oregon, nos Estados Unidos, e seus estudos chegaram a conclusões similares.

Outra forma de descobrir se uma criança poderia ter feito um objeto é criar um experimento. Trinta anos depois da tentativa de Van Beek de produzir um buzz, Kristine Garroway adotou uma abordagem diferente.

Talvez os buzzes não fossem apenas brinquedos de crianças, mas também tenham sido feitos por elas — um processo que servia de brincadeira e era uma forma de fazer com que as crianças aprendessem técnicas importantes de produção de objetos.

Para testar sua hipótese, Garroway recrutou 22 crianças para quebrar cerâmica e tentar fazer seus próprios buzzes. E ela conta que o destaque foi uma criança que encontrou um pedaço de um vaso de flores que já tinha um orifício perfurado, inseriu um lápis no orifício e criou um disco giratório.

"Ele entendeu a tarefa de outra forma", afirma Garroway, rindo. E, de fato, alguns arqueólogos acreditam que alguns discos encontrados com um único orifício, e não com dois, podem ter sido discos giratórios.

Os especialistas continuam solucionando aos poucos o mistério de como as crianças do passado brincavam, mas muitas questões ainda persistem. Existem quebra-cabeças que talvez nunca venhamos a solucionar, o que pode fazer com que a "piada dos arqueólogos" permaneça relevante nos próximos anos.

Mas Garroway indica que isso não acontece apenas com a arqueologia infantil.

"Da mesma forma que não sabemos ao certo sobre as crianças, também não sabemos ao certo como os adultos usavam as coisas", afirma ela, ironicamente. "Nós adivinhamos educadamente - e muito."

* Amanda Ruggeri é jornalista sênior da BBC Future. Sua conta no Twitter é @amanda_ruggeri.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-62669133

sábado, 22 de maio de 2021

Ensaio sobre a cegueira num mundo cor de rosa (Texto completo do Artigo)


Ensaio sobre a cegueira num mundo cor de rosa

Resumo 

Este ensaio aborda uma breve história da Barbie no contexto sócio-econômico-cultural e político dos últimos 50 anos, fazendo algumas relações entre televisão, consumismo e crianças, centradas na figura da boneca. Escrevo a partir de observações feitas em uma escola pública de Florianópolis/SC, como estudante do curso de Pedagogia/UFSC em estágio de docência (2008) e supervisão escolar (2009) nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva da Mídia-Educação. Traço reflexões sobre o sucesso que os produtos da “marca” Barbie têm entre meninas, no que parece ser a influência das mídias sobre as crianças, na afirmação de um mundo cor de rosa em que a boneca vive, muitas vezes sob os olhos condescendentes dos pais e da escola. 

Palavras-chave: Televisão; Consumismo; Criança; Barbie.

Texto elaborado para a Disciplina Imagens da Infância (2009-2), ministrada pela Profa. Dra. Telma Piacentini, no Programa de Pós-Graduação em Educação, PPGE/UFSC.

 

 

Ensaio sobre a cegueira num mundo cor de rosa

 

“...O diálogo mudo da menina do Campeche

que passa um tempo que parece interminável

vestindo e despindo a sua boneca:

_ Do que é que brincas?

_ De nada.

_ Como é brincar de nada?

_ É brincar de tudo, oras!”[1]

 

Durante meu estágio do curso de Pedagogia/UFSC - em docência para a 3ª. série (ou 4º. ano) em 2008, e supervisão escolar, focando na formação de professores na perspectiva da Mídia-Educação, nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, em 2009 -, em uma rápida e superficial olhada pela escola, bastava para eu ficar intrigado sobre o quanto os meios de comunicação - e a TV em especial - têm influenciado as crianças para consumirem determinados produtos da indústria do entretenimento infantil, e do brinquedo. 

Quando as crianças chegavam para as aulas, olhar suas mochilas enfileiradas no chão já permitia reconhecer os heróis que povoavam o seu imaginário. Ao acompanhar as crianças até suas salas, quando elas começam a colocar seus objetos em cima das carteiras - cadernos, estojos, borrachas, canetas e, às vezes, brinquedos - surgiam outros personagens de sua preferência. 

Foi-se o (meu) tempo do Pernalonga, dos Muppets, da Julie Pop e da Moranguinho. E eu mesmo nunca vi um Saci Pererê, Emília de Lobato e, raramente, alguém da Turma da Mônica.  Mais atualmente, e em geral, os meninos se sintonizam e vão brincando com os carrinhos do Hot Wheels, com o Ben 10, Naruto, Homem Aranha, Batman, às vezes Playmobil e Lego. As meninas brincam com a Pequena Sereia, Hello Kitty, Meninas Superpoderosoas, Pucca e, desde há muito tempo, com a Barbie.

 

Barbie nas mochilas à entrada da escola. Foto: Leonos

De ano em ano esses heróis e heroínas vão ocupando, mais ou menos, os horários na televisão e também marcam presença no cinemas, são “brindes” quando se compra uma oferta nas fast foods, e ainda aparecem ligados a uma enxurrada de sub-produtos em locais bem visíveis, e às mãos delas, nos supermercados, nas livrarias, revistas, nos shopping centers, outdoors, na Internet e em muitos outros lugares por onde as crianças passam. 

Por ora, vamos observar esta escola, as minhas próprias ideias de televisão, ainda que superficialmente e a partir de meus próprios pré-conceitos. Observo as crianças e aquela boneca que sempre se reinventa, e permanece como uma espécie de rainha das baixinhas nos últimos 50 anos. Um “ícone cultural” que enfeitiça desde crianças a adultos com seu mundo cor de rosa. Vamos olhar a televisão, e procurar sobre o que se fala dela, quando veicula os desenhos, filmes e comerciais de produtos da marca Barbie. 

Zapeando os canais de televisão e estudiosos da Mídia-Educação 

No exercício de zapear os canais, seja pela manhã, no período da tarde ou até mesmo à noite, a criançada se depara com as mil aventuras de incontáveis personagens em inúmeros canais de televisão. O que temos na TV, pergunta Rosa Maria Bueno Fischer[2] num debate sobre a Televisão? 

“Meninos de olhos enormes, corpos e movimentos um tanto rudes, a guerrear em ritmo alucinante na animação dos desenhos japoneses pelos quais as crianças são literalmente vidradas; Xuxa abrindo-nos as páginas de um imenso livro do Era uma vez..., prometendo uma história fantástica, um conto de fadas que não acontece, numa superprodução de cores, cenários em brilho e cetim, texto moderninho, coisa bem próxima da linguagem comum das crianças deste Brasil, formadas na e pela televisão.(...) Um mundo. Muitos mundos via imagens eletrônicas.” (Grifos da autora) 

Chamando Roger Silverstone e outros autores para um diálogo, neste texto Fischer esclarece os porquês de se estudar as mídias e, de como essa invenção – a TV – transformou completamente a vida cotidiana, bem como a vida política e social da maioria dos países, no mundo todo”. Enfatiza de como é importante essa tarefa de estudá-la, ao que os educadores são chamados, assim como estudantes, crianças e adolescentes na escola, para discutir o que é produzido e veiculado nas TVs, se somos submetidos a algum tipo de controle, ou de como criamos sentidos para nós mesmos e para nossa sociedade. Debate como, inclusive, também influenciamos a TV, mesmo quando somos influenciados por ela. 

Neste sentido, reconhecendo da dimensão da importância da TV em nossas vidas nestes tempos contemporâneos, há que se perceber o quanto ela pode estar influenciando o mundo dos negócios – ou vice-versa -, enquanto as crianças são público-alvo consumidor para uma indústria em franca expansão. Desde quando a criança se tornou o destino das mensagens publicitárias veiculadas pela TV? Isso é coisa de agora ou de há muito tempo? 

Tratando desse grupo em particular - o das crianças – Girardello[3] incrementa aquele debate sobre a televisão, afirmando sobre a necessidade de pesquisar como as crianças recebem a TV e, qual seria o papel desta no cotidiano das crianças: Como elas interpretam os desenhos, novelas, programas de auditório, telejornais, anúncios?” Enfim, que “significado elas dão ao que a televisão lhes mostra?” 

Nas atividades que as crianças desempenham em seu cotidiano, uma pesquisa da autora sobre consumo de mídia e práticas culturais (Girardello, Orofino, 2002), em diferentes contextos culturais na cidade de Florianópolis/SC, afirma que “a televisão foi a atividade mais citada no relato que as crianças fizeram de seu dia-a-dia, mais presente ainda do que a atividade de brincar, independente da classe social. A única exceção foi a escola da comunidade pesqueira, onde a brincadeira apareceu em primeiro lugar”. 

Essa exceção... Será que era a menina do diálogo mudo da epígrafe; aquela lá do Campeche que brincava assim, de uma brincadeira invisível aos olhos de quem a via? 

Se as crianças passam muito tempo “com” a televisão, o “como” elas se relacionam com a programação nesse período é um estudo que interessa aos pesquisadores que vão aprofundando nessa área, e deveria também interessar aos pais e educadores.  Por ora, neste ensaio abordaremos apenas uma breve história da boneca, refletindo sobre estudo e artigos publicados que, particularmente, se centraram na Barbie, relacionando-a com o consumismo exagerado de seus produtos, acessórios e o estilo de vida que ela “representa”. Um jeito Barbie de ser que observei alguns traços em minha passagem pela escola é que direciona o que entrelaço nessas linhas. 

Criança como segmento consumidor 

Nos anos 70 e 80 os interesses da mídia sobre a criança e o adolescente surgem no Brasil e “o surgimento desse segmento a publicidade procura usar ações diretas e indiretas para seduzir a criança e torná-la consumidora de bens e serviços”, afirmam estudantes de direito que, em 2008, estudavam a influência da propaganda e o consumo infantil. Uma análise de comerciais veiculados apenas no período de 04 a 11 de outubro de 2008, das 8:30 às 12:00 h. de dois canais abertos de televisão (SBT e Globo), detectou um total de 40 (quarenta) minutos diários de propagandas voltadas ao público infantil,  divididos entre os intervalos da programação com comerciais que enfatizam que

“provavelmente crianças bem pequenas já sabem o que são os bonecos Max Steel, ou Action Man, os carros Hot Wheels, cachorrinhos Littles Pet Shop, bonecas Barbie Girl. São comuns também anúncios chamando crianças a se dirigir a uma rede de fast-food para colecionar brinquedos.”

 

Nesse estudo declara-se que pesquisas afirmam que “as crianças brasileiras são as que mais passam tempo em frente à TV em todo o mundo”, e no caso estudado parece que 

“os anúncios são direcionados com mais frequência às meninas, e dentre os temas abordados estão bonecas, jogos, sapatos, brinquedos, roupas, lojas de departamentos, shoppings e alimentos”. 

Quanto às frases/slogans desses comerciais observados, detalham os autores do estudo, estes são veiculadas uma semana anterior à semana das crianças. Destacamos do estudo as frases dos comerciais que se referem à boneca Barbie: 

“Em seus comerciais, a Barbie ordena: ‘Seja o que você quiser’, ou seja: ‘Você é livre para inventar seu próprio destino’; ‘Faça o que você quiser’, desde que a sua aparência seja como deve ser.” 

O comercial “Barbie Girl – tranças e mechas” tem esta cena: 

“Imagem: Inicia-se com a música tema da Barbie - Tranças e Mechas. A música fala sobre mudar o ‘visual’. Aparecem meninas com suas bonecas e acessórios que mudam tanto os cabelos delas como os das bonecas”. 

E o autores do estudo ainda observam que

“essa propaganda estimula brincadeiras baseadas no ato de consumir, a vaidade precoce, glamour, ao requinte, adiantando fases da vida adulta. No comercial as meninas possuem todas as bonecas e acessórios, porém na realidade são vendidas separadamente. Crianças não aceitam apenas a boneca, querem também tudo o que aparece na propaganda. Ir às compras como brincadeira é um incentivo ao consumismo. Sabemos que a boneca Barbie representa um padrão de beleza que a sociedade impõe como referencial a ser seguido, com medidas corporais ‘perfeitas".

E, na conclusão de seu trabalho afirmam:

Os estudos e análises de propagandas direcionadas às crianças, veiculadas na televisão, demonstraram a forte influência ao consumismo infantil. Crianças são fáceis de serem convencidas e, por permanecerem muito tempo em frente à televisão, são bombardeadas com comerciais nos intervalos dos desenhos e programas a que assistem.

Pais e educadores já não têm mais controle sobre os pequenos e acabam sendo manipulados pelo desejo dos filhos de possuírem os objetos, brinquedos e alimentos por eles almejados. Susan Linn, professora da Escola Médica de Harvard, diretora associada do Centro de Mídia Infantil Judge Baker e co-fundadora da Coalização pelo fim da exploração comercial infantil afirma:

Como pode uma família, sozinha, proteger seus filhos de uma indústria que gasta US$ 15 bilhões anualmente para manipulá-los? É uma luta ainda mais difícil porque uma das técnicas primárias que os profissionais de marketing usam para manipular as crianças é denegrir os adultos e enfraquecer a autoridade dos pais.

As análises detalhadas de cada comercial evidenciaram o desenvolvimento precoce para vida adulta, estimulando a vaidade, o glamour, o culto ao corpo e à aparência perfeitos (cabelos, roupas e acessórios), de forma a inseri-los e torná-los aceitos pela sociedade. A influência negativa dos apelos vinculados na TV provoca também a formação de crianças egoístas, individualistas, chantagistas e manipuladoras.

A ideologia do consumo imposta nas sociedades capitalistas aliena pais e a sociedade como um todo, fazendo com que percam o poder de limite da negação do consumo desenfreado. Programas de educação para o consumo consciente, já realizado por algumas empresas, são formas amenizar o problema, fazendo com que as crianças possam usufruir cada fase da infância naturalmente. 

Nota-se que o trabalho e as conclusões acima são derivados da observação de estudantes de Direito - para apenas dois canais de televisão aberta no espaço de apenas uma semana - preocupados com uma questão que lhes diz respeito na defesa da Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, e da qual deveriam se ocupar educadores e pais e/ou responsáveis pelas crianças, uma ação defendida pelos estudiosos da Mídia-Educação. Os estudantes parecem estupefatos e perguntam de como a família pode proteger seus filhos dessa “manipulação” que estimula as crianças a perderem sua infância, por serem estimuladas precocemente à vida adulta. Isso em nome do lucro de empresas capitalistas que impõem toda uma ideologia. Quem protege as crianças disso tudo? 

Membros do Instituto Alana[4] estão atentos à essas questões, quando obtêm dados de pesquisa que demonstram que 

sete em cada dez pais entrevistados afirmaram serem influenciados pelos filhos na hora da compra. Para os pais, os maiores influenciadores dos pedidos dos filhos, entre sete itens estimulados, são as propagandas (38%). Em segundo patamar estão os personagens de TV ou filmes e programas de TV (18 e 16% respectivamente. Apesar de haver aspectos mais relevantes, a propaganda é um item de preocupação para os pais, em virtude, principalmente, dos pedidos que os filhos costumam fazer, em decorrência da mesma. Há quase consenso de que as propagandas são influenciadoras e levam os filhos a uma atitude consumista.” (Instituto Alana, Pág 25) 

Quando essa pesquisa conclui que 73% dos pais concordam que deveria haver restrição ao marketing e propaganda voltada às crianças”, já em dezembro de 2009 sentiram-se na obrigação de defender os direitos das crianças, ao verificar a veiculação inadequada de filmes publicitários da linha “Barbie”, através de ação da equipe do Projeto Criança e Consumo[5]:

Todos os comerciais tratavam de posturas como preocupação excessiva com a aparência, consumo excessivo de produtos e inserção precoce da criança no mundo adulto. Ademais, em algumas publicidades fez-se menção direta ao site da boneca "Barbie", que em meio aos diversos jogos eletrônicos e brincadeiras online, sugere a aquisição de produtos Barbie. Assim, a página na internet se revelou verdadeiro site de vendas e não mera brincadeira para as crianças.

Verificou-se, portanto, que a empresa Mattel do Brasil Ltda. desenvolveu estratégia de comunicação mercadológica abusiva, porquanto direcionada às crianças e com o objetivo de promover os produtos da linha Barbie.

Em razão da comprovação de tantas abusividades, o Instituto Alana, por meio do Projeto Criança e Consumo, em 26.2.2010 promoveu Representação perante a Fundação de Defesa e Proteção do Consumidor — PROCON — do Estado de São Paulo cidade de Franca, denunciando os comerciais televisivos e o site, que se dirigem eminentemente ao público infantil. No momento, aguarda-se posicionamento do órgão.”

E o que dizer de crianças que têm acesso aos canais da televisão a cabo direcionados a elas que estão no ar 24 horas por dia, com seus programas e comerciais? Os institutos de defesa do consumidor, os educadores, pais e responsáveis estão “de olho” no que as crianças assistem na TV? 

A partir do exposto brevemente acima, sobre a influência da televisão e dos apelos da mídia e publicidade sobre as crianças que passam muito tempo “com” a TV, o que dizer quando vem ao caso uma boneca que é aparentemente o sonho de consumo de crianças que vivem em contextos sociais e históricos específicos ao redor do mundo? Como e por que este sonho é construído? Essa boneca Barbie é a mesma no mundo inteiro? Como começou esse sonho de um “Barbie World”? 

O mundo em que nasceu a boneca Barbie 

No maravilhoso mundo da Internet até a Wikipédia fala da marcante influência que a boneca Barbie tem nos dias de hoje:

“A influência da Barbie nos dias de hoje é visível e sem dúvida marcante. Sempre existem comparações e citações da boneca mais vendida do mundo o tempo todo, costuma-se chamar alguém de Barbie por estar vestida de rosa, ou por ser loira. Isso prova que a Barbie valorizou uma linha de preocupação com a estética, beleza e ajudou a criar um padrão de beleza. A moda da boneca influencia a sociedade, pois ela sempre procura simbolizar uma garota bonita, inteligente, amiga, companheira, meiga e politicamente correta.

A Barbie marcou gerações inteiras e continua até hoje, devido a personalidade que lhe foi associada e o padrão de beleza que simboliza. Não é raro muitas meninas e adolescentes quererem se parecer com a Barbie.

A Barbie influenciou uma nova conduta em mulheres e crianças e criou uma nova identidade social que é perceptível em crianças, adolescentes e mulheres do mundo todo, mesmo sendo uma boneca originalmente estadunidense.” 

A empresa que a fabrica - Mattel[6] - é americana, para onde vão, de uma maneira ou outra, os lucros advindos de sua comercialização, que dados revelam serem de US$ 1,5 bilhões dos 5 bilhões de dólares faturados pela empresa por ano. A empresa nasceu em 1945 da união entre o casal Ruth e Elliot Handler, e seu amigo Harold “Matt” Matson. Daí, das iniciais de Matt e Elliot surgiu a Mattel. A boneca Barbie foi criada por Ruth e seu marido em 1959, inspirada nas brincadeiras de sua filha Barbara (apelidada Barbie) que brincava com bonecas de aparência de bebês. Mas também inspirada numa “boneca erótica alemã” vendida em tabacarias e bares. Lilli[7] era uma espécie de mascote para os homens adultos”, saída do universo das histórias em quadrinhos do periódico Bild-Zeitun, da Alemanha pós-guerra e transformada em boneca. Queriam fazer uma boneca não mais com feições de bebê, mas uma com feições de adulta. Tempos depois a própria Mattel teve de pagar uma indenização pela “cópia” feita da boneca Lilli, dizem os registros. 

Lili Marlene e outras Lilis 

Aqui faço uma pausa para instigar um pouco. Eu penso que essa boneca Lilli – a “mascote dos adultos”- também tenha uma relação com a canção “Lili Marleen”[8] (ou Lily Marlene, ou Lili Marléne), que se tornou favorita dos soldados da II Guerra Mundial, de ambos os lados. Consta que a letra original, em alemão, foi escrita em 1915 e, depois gravada também em inglês, até finalmente se imortalizar na voz de Marlene Dietrich[9] em 1943. A música em questão fala de um encontro de amor e despedida entre um soldado e uma moça, sob um lampião. Um lampião que conhecia os passos e o lindo caminhar dela. 

Todas essas ideias “no ar” não foram captadas e transformadas numa personagem de cartoon do jornal alemão e, depois, na boneca com feições adultas para homens já formados que a podiam comprar em lugares que não são, necessariamente, os freqüentados por crianças? Naquele mundo pós-guerra, necessitado de algo que consolasse, “eroticamente”, uma Alemanha em frangalhos, a boneca Lilli não seria, então inspirada, também, nessa personagem da música de sucesso? 

Sobre esse nome “Lilli”, também chega à memória a música “Hi-Lili Hi-Lo”[10], sucesso do filme “Lili” com Leslie Caron de 1953. Cena que, ironicamente, se dá com marionetes, incluindo uma bailarina loira e lábios vermelhos e, um lobo mau... 

Há uma versão da música foi adaptada para um poema que ainda me recordo dos tempos de criança: “Um ninho de tico-tico”[11], da poetisa e educadora brasileira Zalina Rolim (1869-1961). 

Esses fatos são concorrentes nesse período da história, e pouco antes da “invenção” da Barbie, em 1959. Tempo de profundas transformações na sociedade e avanço do poderio norte-americano. E, a boneca “avançou” junto e conquistou os seus espaços. 

A boneca Barbie era, então, uma “típica garota americana, com seu twin-set de lã e faixas no cabelo e perucas que vinham em três cores: loura, castanha e ruiva”. Como curiosidade a Wikipédia declara que “a ideia de uma boneca com feição adulta, segundo Ruth, era inspirada no fato de que quando criança, você sempre quer crescer e se tornar uma mulher adulta”. Eu suponho que ela tinha muito de publicitária e marqueteira.

A Barbie por uma pedagoga

Para analisar essas questões em redor do que significa a Barbie, uma Pedagoga vem contribuir com extensas reflexões em vários artigos e uma dissertação de mestrado dedicada a isso, aprofundando o tema em seus aspectos de conceituação de criança e infância, brinquedo e indústria cultural, gênero, corpo e sexualidade, estética, tecnologia e comportamento entre outros. Segundo Roveri[12], em seus estudos sobre a boneca da Mattel,

“à criança cabe a busca por uma aparência adulta assemelhada à da boneca. Meninas candidatas à Barbie brincam com o próprio corpo na fantasia de que o mundo fashion da boneca possa corresponder às suas vidas. Nessa ideologia, há estreita ligação entre ter o que é da Barbie e tornar-se a própria Barbie: vestir suas roupas, usar seus acessórios e sapatos iguais aos seus, significa conseguir o mesmo corpo, o incrível sucesso, o luxo e o prestígio da boneca.”

E a autora sugere que, adquirindo a boneca e seus acessórios numa coleção que nunca tem fim, a boneca se imortaliza para crianças e adultos colecionadores. Nos anos seguintes a Barbie vai se tornando uma boneca mais flexível, articulada, se aperfeiçoando conforme a tecnologia de fabricação de brinquedos ia se desenvolvendo, incorporando elementos que fizeram dela a boneca mais vendida do mundo, com algo em torno de um bilhão de unidades.

“Barbie também ensina para as crianças como elas devem se apresentar corporalmente, vendendo não só seus produtos, mas o estilo de vida que está em alta no mercado. Desde pequenas, as crianças são incentivadas a se apoderarem desse corpo de plástico e desejá-lo para si mesmas.

No mundo virtual da boneca, é possível participar de diversas atividades com a Barbie e aprender que é essencial ter uma roupa para cada ocasião e não repetir o mesmo traje dentro de certos espaços de tempo. Barbie e suas amigas mostram como a mulher pode ficar mais bonita e descolada ao usar roupas que valorizam as formas femininas mais admiradas socialmente.”[13]

A boneca fatura no cinema e no mundo dos desenhos animados, também comercializada em “pacotes” dos produtores/criadores/detentores de seus direitos, vendidos às redes de televisão abertas ou a cabo no mundo inteiro. Bolsas, mochilas, material escolar, roupas, estojos de maquiagem, salão de beleza portátil, bicicletas, mini casas com todas as suas dependências e aparelhos eletrodomésticos, animais de estimação, games e jogos, televisão, computadores, celulares etc. 

No Brasil, quando acessamos o site da Barbie[14] a tela do computador vai “explodindo” em imagens ao som da música “Barbie Girl”[15], do grupo Aqua[16], que foi enorme sucesso mundial em 1977. O site oferece todos os produtos ligados à boneca e ao seu mundo. A letra da música em questão canta um diálogo entre ela e seu namorado, Ken, que a convida para uma “festa”. Estes diálogos seriam possíveis entre os jovens da era rock’n’roll, do tempo da discoteca e adaptado de um jeito ou outro para todos aqueles que curtem a vida com a “imaginação” que a Barbie tem: 

Garota Barbie

 -Oi Barbie!

-Oi Ken!

-Quer ir dar uma volta?

-Claro Ken

-Pule!

Eu sou uma garota Barbie no mundo Barbie

A vida no plástico é fantástica

Você pode escovar meus cabelos, me despir em qualquer lugar

Com imaginação, a vida é sua criação 

Vamos lá Barbie, vamos para a festa! 

Eu sou uma garota Barbie no mundo Barbie

A vida no plástico é fantástica

Você pode escovar meus cabelos, me despir em qualquer lugar

Com imaginação, a vida é sua criação 

Eu sou uma loira assanhada, Num mundo de fantasia

Me vista, bem apertado,Eu sou sua bonequinha

Você é minha boneca, rock'n'roll

Sinta o glamour vestida em cor de rosa 

Você pode me tocar, pode brincar

Se você disser: "Eu sou sempre seu" 

Eu sou uma garota Barbie no mundo Barbie

A vida no plástico é fantástica

Você pode escovar meus cabelos, me despir em qualquer lugar

Com imaginação, a vida é sua criação 

Vamos lá Barbie, vamos para a festa

Ah ah ah yeah

Vamos lá Barbie, vamos para a festa

Ooh wow, ooh wow

Vamos lá Barbie, vamos para a festa

Ah ah ah yeah

Vamos lá Barbie, vamos para a festa

Ooh wow, ooh wow 

Me faça caminhar, me faça falar , faça o que bem entender

Posso ser como uma estrela, posso ficar de joelhos e implorar

Venha suba, amiga danadinha, vamos repetir outra vez

Vamos para a cidade, curtir, vamos para a festa 

Você pode me tocar, pode brincar

Se você disser: "Eu sou sempre seu"

Você pode me tocar, pode brincar

Se você disser: "Eu sou sempre seu" 

Oh, estou me divertindo tanto

Bem Barbie, estamos apenas começando

Oh, Eu te amo Ken![17]

 

Segundo Rovari[18] (2007), a menina somente pode acessar o site se seus responsáveis responderem a uma mensagem da Mattel autorizando sua filha a participar das atividades do sistema. Para isso, um comunicado de esclarecimento é enviado aos adultos. O site é constantemente “monitorado” para que sejam garantidas interações “apropriadas” entre as crianças, e estas com o espaço da Barbie. 

O controle sobre os produtos da “marca” Barbie vai mais além. As empresas que detêm o controle da produção e veiculação dos desenhos animados, por exemplo, têm uma rede no mundo inteiro por onde as histórias e comerciais da Barbie são assistidas pelas crianças. Mas, também no mundo digital os verdadeiros “donos” da Barbie querem ter um controle absoluto do uso da imagem da boneca, reivindicando direitos autorais. Vejamos por exemplo, uma nota: 

“A preocupação com as questões de copyright às vezes beira a paranóia. Por toda a Internet, grandes companhias estão atacando qualquer uso não autorizado de suas marcas, aparentemente de forma gratuita: a fabricante de brinquedos Mattel está indo atrás de qualquer um que use o nome ‘Barbie’. Canais de televisão e estúdios de cinema estão pegando no pé de fã-clubes que publicam imagens, sons e informações sobre seus filmes e programas. Gravadoras proíbem a circulação de letras de músicas de seus discos”. 

Eu acredito que as fãs, meninas acompanhadas de seus pais, não sabem nada desses debates, controles e questões de mercadológicas quando formam filas imensas nos shopping centers para visitar o estande da Barbie, segurando suas próprias bonecas. Elas não sabem nem mesmo como a boneca foi entrando na vida das crianças, e das meninas. 

A boneca do sagrado ao profano 

No entanto, também creio que lembrar sobre a história social do brinquedo e a “trajetória” das estatuetas, desde os tempos primitivos ao das deusas dos tempos antigos, ajuda a entender a história da “boneca” como brinquedo. Representado o sagrado e a devoção para os seres humanos naqueles tempos, a outrora imagem antropomorfizada se “profaniza” e ganha contorno de “boneca”, como brinquedo das crianças a partir do século XIV. Nesse período é que na Europa se inicia a fabricação de bonecas como brinquedo para crianças, mas que a Pedagogia dos séculos seguintes reforça como brincadeira específica e preferida das meninas. 

Isso nos ajuda a compreender a influência da Barbie nos tempos atuais, e o “fascínio” que exercem sobre nós, crianças e adultos. Ajuda a pensar se a boneca não seria, no fundo, a réplica de nós mesmos. E, uma pergunta fica no ar: as bonecas tornaram-se para as crianças o que o ídolo/imagem foi para seus ancestrais, o espelho de uma invisível realidade interior? No ato de brincar, no momento lúdico, se revela alguma coisa do caráter espiritual da criança? 

De qual “espírito da coisa” está imbuído o ato de brincar especialmente com a Barbie, a partir de nossa compreensão do mundo como adultos? Acriança que brinca com qual boneca seja “não está nem aí” para isso, e brinca porque ali se revela “algo” de contato com aquela relação sagrado-profano que não percebemos mais em nós mesmos? 

A influência barbiniana 

A influência barbibiana se dá num contexto de configuração do poderio estadunidense tanto nos círculos políticos e econômicos, quanto nos setores educacionais e culturais no mundo pós II Guerra Mundial, quando não faltam estudos sobre isso. É a própria configuração e hegemonia de um pensamento capitalista a partir do que “é bom para os estados Unidos”. No que a Barbie ajudou nesse “pensamento”? 

“Coqueluche” ou brincadeira de crianças e/ou lucros para adultos, não faltaram influências da boneca até na indústria da moda, vestida por estilistas mundialmente famosos. Ela já foi apresentada ao público em 108 profissões e 50 nacionalidades, às vezes em versões limitadas que, no mercado de colecionadores, podem valer alguns milhares de dólares. 

Roveri[19] ainda afirma no seu texto que

à Barbie são dadas identidade e presença no mundo. O Pentágono presenteou-lhe com uma coleção de trajes militares, ela tem até uma versão de cera no Museu Grévin em Paris e, em seu nome, seus seguidores fazem convenções nacionais. Barbie é vestida e fotografada por gente famosa, tem mais de 500 estilos de maquiagem profissional, possui casas, carros, amigas, namorados e um mundo fashion com seu nome. Uma “indústria de sonhos” faz da Barbie o que quiser!”

Para garantir que crianças ao redor do mundo não deixem de comprar e adorar a Barbie, quero dizer, deixem de brincar com boneca mais famosa e mais vendida, ela também é oferecida em versões de “etnias” diferentes. Sempre longilínea, magra, sem celulite ou estrias, cabelos volumosos bem penteados, no padrão de sua “original” branca e americana. Congelada na idade favorita desse mercado que faz idolatria à juventude eterna. 

A Barbie “vende” um estilo de vida e as crianças são estimuladas a não apenas comprar a boneca, mas também a sonhar com esse “american way of life” para suas próprias vidas infantis. Se os pais não sabem disso, pelo menos compram as bonecas, porque as criança assim o querem. 


Barbie em outras “etnias”. Foto: http://oficinadahistoriad.blogspot.com

No Jornal da UNICAMP, Luiz Paulo Juttel cita o trabalho de Rovari, destacando observações como: 

“até a época do lançamento de Barbie, os comerciais televisivos de brinquedos eram dirigidos apenas aos pais. A inovação da Mattel consistiu em dialogar diretamente com as crianças.

(...) o forte trabalho de marketing do casal Ruth e Elliot Handler deu certo. Pouco tempo após seu lançamento, Barbie já era líder em vendas, posto que mantém até os dias de hoje”. 

Assim, a partir dessa “jogada” publicitária e de marketing, podemos compreender como os comerciais veiculados na televisão iniciam uma nova estratégia até então desconhecida: o de falar diretamente às crianças. O que parece ter sido copiado, desde então, pelos fabricantes de brinquedos em especial. 

Juttel ainda ressalta do trabalho de Rovari aspectos que dizem respeito à esfera econômica, das relações trabalhistas e de trabalho escravo disfarçado na busca pela redução de custos e aumento de lucro, perfazendo as características do capitalismo hegemônico nesse mundo globalizado: 

atualmente 65% dos brinquedos da Mattel são fabricados na China. O restante é feito na Indonésia, Tailândia, Malásia e México. Nesses países, aponta a pesquisadora, é imensa a lista de ações que atropelam os direitos trabalhistas, a começar pelos baixos salários. Nos EUA e Alemanha são pagos de U$ 10 a 18,50 por hora ao trabalhador industrial. Na China paga-se, em média, U$ 0,87.” 

Concordo com Roveri quando ela conclui que

meninas aprendem que a beleza é a condição para que adquiram visibilidade social. Cada vez mais novas, as crianças desejam transformar seus corpos de acordo com os moldes de Barbie, na fantasia de que o mundo fashion da boneca possa corresponder às suas vidas. Nessa ideologia, há estreita ligação entre ter o que é da Barbie e tornar-se a própria Barbie: vestir suas roupas, usar seus acessórios e sapatos iguais aos seus, significa conseguir o mesmo corpo, o incrível sucesso, o luxo e o prestígio da boneca”.

Oliveira e Argollo (2009, Pág 4) aprofundando na questão da “sociedade do consumo” em Baudrillard, afirmam: 

“mesmo que não possa ser efetivamente praticado, o consumo está presente nas crenças, hábitos e desejos existentes. As mercadorias constituem o fundamento da existência do consumo e, através delas, os indivíduos comunicam-se com a sociedade e sentem-se nela incluídos. O ato de adquirir um bem, ou simplesmente desejá-lo, torna os indivíduos “iguais” aos outros membros do seu grupo sócio-cultural, ou mais ou menos, ‘distintos”. 

A partir do exposto acima, quase começo a acreditar que parece que todos nós nascemos livres e iguais, mas para consumir. Como não resistir aos apelos para a realização de um sonho que nos faz pensar que somos mais bonitos, bem vestidos, em uma casa que tem tudo, que a vida é uma festa? Como não consumir, ou não querer consumir o que nos torna “melhores” para estarmos “incluídos” e bem colocados, com status nessa sociedade, mesmo quando somos apenas crianças? E, quando crescemos? 

No estudo do cinquentenário da Barbie, nas análises da fantasia e consumo de produtos por crianças, eles destacam do apelo a que crianças são submetidas pelo meio de comunicação/informação/entretenimento com o qual têm mais contato: 

A prática do consumo é incentivada por todo o sistema sócio-econômico além do cultural. Em época de Natal, São João e outras datas comemorativas nacionais e regionais, por exemplo, a pressão de consumo é intensificada. Os shoppings e o comércio ficam lotados e o horário de atendimento é prolongado. Não se pode deixar de destacar a importância da publicidade como um dos elementos moldadores de comportamentos na atualidade. A televisão e os demais meios de comunicação, através do discurso publicitário, exercem grande pressão para que consumamos. Independentemente de classe social, raça ou cor, a maioria das pessoas participa ou tem o desejo de estar incluído neste sistema repleto de símbolos - dentre elas, as crianças. (Oliveira e Argollo, 2009, Pág. 5) 

Se o mundo está assim, o que fazer senão parar e refletir um pouco sobre o mundo em que vivemos? O que fazemos no mundo, o que fazemos para o mundo? É possível parar, refletir e, depois disso, saber qual o mundo que queremos? O que fazer para refrear essa pressão a que somos submetidos para consumir? 

E, se individualmente compreendemos isso tudo, como é possível socializar o que foi refletido e tentar mudar alguma coisa, ainda que a Barbie continue sua jornada de conquistar corações de meninas e o mundo por mais 50 anos? Como a Barbie se reinventará, assim como remodelará suas estratégias de marketing e campanhas publicitárias em um mundo que vive uma crise econômica generalizada? 

O que a escola tem a ver com tudo isso, quando às vezes se observa que muitas alunas do curso de Pedagogia, além de professoras da escola, apresentam o mesmo estilo “Barbie way of life”, no vestuário, no pensamento pedagógico, e na relação com estudantes e crianças? 

Uma parada: Recentes notícias da Barbie aos 50 anos 

 “Contra crise, Barbie prepara loja de 6 andares em Xangai

A Barbie tenta contra-atacar sua queda de vendas com uma loja de seis andares em Xangai, a primeira desse tipo no mundo e com a qual seus fabricantes esperam inaugurar uma nova era em seus 50 anos de história. A loja será inaugurada na sexta-feira e, em seu primeiro dia de funcionamento, convidará as meninas a desenhar bonecas, mimará mães e filhas com tratamentos faciais e oferecerá um jantar em um restaurante, com direito a um drinque no ''bar da Barbie''.

"Trata-se da Barbie. Não devemos nos limitar a apenas uma coisa quando temos ante nós um mundo de oportunidades. Beber no ''bar da Barbie'' já é divertido só de ouvir falar", comenta Richard Dickson, diretor da marca, controlada pelo fabricante americano Mattel. 

 


Barbie . Xangai/China. Foto: http://www.archdaily.com


A Mattel quer converter sua boneca - que esta semana vira ''cinquentona'' - em um padrão de estilo de vida para as meninas chinesas, reunindo na loja mais de 45 categorias de produtos em sua homenagem.

Apesar de registrar uma queda das vendas de 21% no quarto trimestre de 2008 em todo o planeta, a Mattel confia que a nova loja será crucial para converter sua boneca no brinquedo preferidos das meninas chinesas.

Atualmente, o gigante asiático concentra 2,5% das vendas mundiais da Barbie, segundo Dickson. "Mas, em cinco ou dez anos, a China se converterá no mercado número um para a marca", afirmou. "Aqui temos uma oportunidade única de crescimento, que tratamos como uma estratégia a longo prazo".

E Xangai, uma cidade apaixonada pelo glamour e habitada por mulheres atraídas pelos produtos de grife, é o ponto de partida natural, acrescenta.

A loja não poderia ser mais ao estilo Barbie: escadas rolantes cor de rosa, um girau adornado com quase 900 Barbies exibindo modelos únicos e reproduções exatas à venda de todas as bonecas da história da marca.

Um departamento de design permite que os clientes usem computadores para idealizar sua boneca favorita, escolhendo a cor da pele, do cabelo e da roupa. Em outra área, as meninas podem brincar provando os trajes em tamanho real do vestuário da Barbie.

Também podem fazer as unhas ou o cabelo em um spa e até tomar um sorvete com em um bar decorado como se fosse uma avenidade com lojas da moda. Há ainda um restaurante no último andar, sob responsabilidade do famoso chef australiano David Laris.

Apesar de a Mattel planejar abrir novas lojas no mundo, é pouco provável que alguma alcance o esplendor da de Xangai, segundo Dickson.

O fabricante americano segue assim o exemplo de outras marcas, como a Appel Computers e a Ralph Lauren, que, com lojas descomunais, pretendem estabelecer uma relação direta com os clientes”.[20]

 

“Barbie em mais duas edições

 

No dia 9 de março a boneca mais famosa do mundo completou 50 aninhos muito bem vividos, mas o que ela representa na história ultrapassa o papel de um simples brinquedo. A Barbie faz parte do imaginário infantil de muitas gerações em todo mundo e já influenciou e inspirou milhões de pessoas e ninguém pode negar a sua importância.

 

A Kartell comemora os seus 60 anos ao lado desta boneca cinquentona lançando uma coleção especial em grande estilo. A empresa apresentou sua coleção no Salão Internacional do Mobiliário em Milão e no dia 21 de abril aconteceu um grande evento no stand transformando-o na casa da Barbie em tamanho real. Podem imaginar?

 

A Barbie em tamanho natural veste roupas Moschino e sapatos bailarina cor de rosa e branco de plástico da empresa Norma Luisa. Linda e acompanhada dos móveis exclusivos da Kartell. A vedete da coleção é a cadeira Louis Ghost criada pelo Philippe Starck em 2002 que é inspirada na clássica cadeira Louis XVI e ganhou uma nova versão especial em policarbonato rosa transparente e com a cabeça da Barbie desenhada no encosto. Cada cadeira sai por €235 (R$690) e também possui uma versão mirim especialmente para crianças por €95 (R$280).[21] 

E ainda,

“Barbie & CIA

Ela continua a mesma, mas com uma nova roupagem, digamos, mais conectada ao século XXI. Chega às lojas deste ano, mas precisamente no Natal, a boneca Barbie Engenheira de Computação – a 126ª da coleção. A Computer Engineer Barbie foi uma das duas profissões selecionadas por um concurso promovido pela empresa Mattel, via internet. Em segundo lugar, os votantes elegeram a Barbie âncora de noticiário.


Barbie “Computer Engineering”. Foto: http://familyinternet.about.com


Com o lançamento da Barbie Engenheira de Computação, a empresa espera “inspirar uma nova geração de meninas a explorar esta importante indústria high-tech, que continua a crescer e precisa de futuras líderes femininas”.

Para criar o guarda-roupa da nova Barbie, a fabricante disse ter tido a ajuda da Sociedade de Mulheres Engenheiras dos EUA e da Academia Nacional de Engenharia. A Barbie engenheira virá com smartphone, fone Bluetooth e laptop com maleta, além de um suéter com zeros e uns, em referência à linguagem binária dos computadores.” [22]

 

Barbie Engenheira de Computação, descolada, engenheira, com celular Bluetooth e laptop... Âncora de noticiário”... 

No Youtube já fizeram o Pokémon, Naruto, os Patrinhos Mágicos, o Avatar, Sonic, a Branca de Neve e outras personagens da Disney além de outros famosos cartoons cantarem aquela música “Barbie Girl”. Até inventaram há pouco a Barbie Streisand. Mas, ainda não fizeram a boneca Barbie Extraterrestre, ou a Barbie a la Avatar de James Cameron. Ainda não. 



Barbie Streisand. Foto: http://www.emule.com.br


A Barbie e o barbado

Eu mesmo que brincava de bola, de carrinho, de casinha, de tudo com minhas primas e primos, irmã e irmão, ia ao cinema e ao teatro, gostava muito de TV, ia à escola e também aprendi a cantar “Hi-Lili Hi-Lo”, eu que destruía as bonecas de minha irmã também brincava com os bonecos e bonecas, fazendo como que naquelas antigas revistas de fotonovelas em quadrinhos dos anos 60. Em oficinas de educação e comunicação, incentivava as crianças (e as vezes adultos) a criarem as suas próprias fotonovelas, com suas histórias e textos que preenchiam nos “balões” de diálogo. E das suas histórias tínhamos um “mote” para outras discussões e ações. 

Depois de adulto, quando nas bonecas e nos bonecos encontrei um “elo” que me aproximava das crianças nos momentos de fazer contato com elas, no exercício da profissão docente, “re-inventei” as minhas próprias Barbies, transformando-a numa Accla, sacerdotisa dos Incas, numa guerrilheira das FARC, às vezes Zapatista com seu namorado Subcomandante. Isso porque achava meio irreverente pegar uma boneca que simbolizava uma ideia hegemônica de estilo de vida e de mundo, para combater isso mesmo, de uma maneira bem-humorada. 

Como uma série de bonecos foi se inventando na mesma escala 1:6, eu fazia deles os pares das respectivas Barbies, inclusive as que modifiquei como latino-americanizadas. Na universidade, fazia montagens irreverentes com as bonecas Barbies que se pareciam no vestir com tantas colegas estudantes de diversos cursos. Na verdade, não sabia se as bonecas se pareciam com as colegas, ou se estas é que se pareciam com as bonecas. 


Barbies latino-americanizadas, da FARC e Accla com os respectivos bonecos Subcomandante e Inca.. Foto: Leonos

Nestes anos, nas minhas andanças pelas prateleiras das lojas de brinquedos nunca encontrei um bonequinho “masculino”, quando era possível encontrar uma infinidade de bonecas “mulheres”, para servirem de filhos dos casais que eu formava para aquelas oficinas. Naturalmente que, politicamente correto, também fazia pares de casais alternativos de boneca com boneca e boneco com boneco. Tenho até mesmo um boneco gay “superdotado” chamado Billy, de invenção norte-americana. Creio que sua superdotação queira reivindicar mais masculinidade, ou aparente preferência, em geral, de pessoas heterossexuais ou homossexuais para esse detalhe. 

Não estranhamente, os bonecos “masculinos” vendidos para garotos se não são super-heróis já famosos, se apresentam sempre estourando em músculos bem definidos, com roupas militares, policiais, ou em trajes esportivos radicais. Mas nunca com os órgãos sexuais moldados em plástico no corpo, ao contrário da diferença dos seios na Barbie, e similares. A mulher é delicada, sorridente e rosa. De Vênus. O homem é forte, musculoso, viril. De Marte.As bonecas e bonecos também. 

Dessintonizados no divã do analista 

Acredito ter visto o que me parece a Barbie no divã do analista. Um divã rosa, diga-se... Pode ser que até mesmo a boneca tenha de ir se “analisar” alguma vez. Isso, quanto às crianças, em um mundo que valoriza tanto aquele glamour, o sucesso e o luxo rosa choque de fantasia, exaustivamente exibidos nas TVs e comerciais, não me causaria admiração se consultórios de psicólogos e psiquiatras estivessem cheios de crianças dessintonizadas entre o mundo idealizado da boneca e seu mundo real, concreto, onde vive, entre seus devaneios, aspirações infantis, e limites pelas possibilidades. Mundo onde os seres humanos são submetidos em sua maioria a, por exemplo, condições desumanas de trabalho e privados de condições básicas de qualidade e dignidade de vida, inclusive para os trabalhadores da educação: professores que as pesquisas indicam estar ficando cada vez mais doentes durante o seu exercício profissional. 


Barbie no “divã”. Foto: www.dakidstoys.com

Nem mesmo me admiraria de que as escolas e educadores, em sua maioria, não soubessem do que co-existe de real e irreal - e pesadelo - na história dessa boneca e de seu mundo. Do mesmo modo, temo que as pesquisas sobre todos esses temas, mais ainda do consumismo entre crianças, não têm chegado à sociedade e nem às escolas como forma de possibilitar maior conscientização e participação dessa mesma sociedade no combate aos exageros, ao que pode se dizer “doentio”. 

Nós, educadores que temos tantas pedras para jogar na figura dos atualmente denunciados pedófilos, nos fazemos tão “doentios” quanto estes quando nos entregamos tão fervorosamente aos “anúncios” dos profetas do consumismo. Também não tratamos de construir novas posturas, críticas e criativas, em relação aos meios, e à televisão. Quando fechamos os olhos para essa realidade nos tornamos “pedagófilos”, “professando” e “professorando” deixando que a mídia literalmente assedie as crianças, retirando delas o direito à sua infância sem o consumismo que os “adultos” criaram no mundo. 

Tsc.. Tsc... Tsc... que cabem aqui, ou

Considerações sobre o real e o imaginário que a gente muda 

O que é infância? O que é criança? Onde ficam as alegrias da criança e da infância que mal sabe do “mundo” que as espera? Lá dos primórdios da história matriarcal, do mundo daquelas deusas de pedra que os antigos reverenciavam, passando pelo Olimpo ao céu das igrejas, às estrelas do universo, há algum anjo ou um ser superior que vela pelas crianças que chegam ao mundo em cada tempo? Brincar é algo tão intrínseco, faz tanta parte de nossa natureza como seres, que até os animais também brincam? Brincar é cultura? Brincar é biológico? 

(...) 

Brincar é permitido? 

(...) 

O que é essa coisa de “lei da selva”? Qual é o instinto de conservação em jogo nessa selva de animais e homens? Será a guerra de todos contra todos? Quem tem mais esperteza: a raposa ou o lobo? 

(...) 

Toda essa história de crianças, homens e mulheres, mundo, é/são questão/questões de moral/morais, verdade/verdades? Qual/quais? Ou de valores? Mas, quais valores? 

(...) 

Aqueles anjos-crianças pintados ou esculpidos nas catedrais estariam, na verdade, brincando e querendo brincar? 

(...) 

O mundo que espera as crianças é esse em que a ciência, religião e filosofia “brigam”, onde Deus e Mamon disputam um “céu” onde tudo é mercadoria, e que só o consumismo pode comprar? 

(...) 

As pessoas em seus diferentes contextos culturais, sob o império do sistema capitalista, não são “formatadas” sob uma mesma matriz: a de serem pessoas aptas ao consumo? 

(...) 

A boneca é fetiche? A boneca é mercadoria? A criança é mercadoria? Somos réplica, imagem e semelhança dessa mercantilização de tudo e todos, fazendo da boneca a réplica de nós mesmos? 

(...) 

Naquela música da “Barbie Girl” o Ken não está “cantando” a boneca quando lhe chama para curtir a vida, e curtir muito mais na vida num trocadilho de versos? 

“Vamos para a cidade, curtir, vamos para a festa

Você pode me tocar, pode brincar

Se você disser: "Eu sou sempre seu"

Você pode me tocar, pode brincar

Se você disser: "Eu sou sempre seu"

Oh, estou me divertindo tanto

Bem Barbie, estamos apenas começando

Oh, Eu te amo Ken

 

(...) 

Mas, os homens alemães depois da II Guerra Mundial compravam uma boneca que lhes lembrava uma garota de seus sonhos? E essa boneca lhes servia de amuleto? E esse fetiche se tornou um brinquedo para crianças? Que coisa mais esquisita e, digamos, que só Freud explica...

Apaga tudo! 

(...) 

Na China, se firmando como superpotência comercial com seu sistema de “socialismo de mercado”, os patrões bilionários pagam aos trabalhadores das fábricas um pouco mais por hora de trabalho do que se destinaria à “manutenção” de um escravo. E, a Mattel está “de olho” no bilhão de crianças consumidoras desse potencial mercado chinês para sua estrela das vendas: a Barbie. Quanto custará uma boneca de olhos puxados por lá? 

(...) 

O que é que a criança e infância têm de tão maravilhoso, ou amedrontador, que nos encanta e preocupa ao mesmo tempo? Se sabemos de onde vêm os bebês, sabemos de onde vem a infância? 

(...) 

Assim como os adultos, as crianças ficam psicóticas? A televisão “psicotiza” e hipnotiza a gente, ou nessa sociedade dos valores dominantes do consumismo tudo é normal? 

(...) 

Enfim, o “homem” não nasceu mesmo intrinsecamente bom e, não foi a “sociedade” que o perverteu? Que “culpa” têm as crianças ao redor do mundo das mazelas criadas pelos adultos antepassados? Rousseau não tinha e tem razão de criticar a sociedade moderna? Quem é esse “bom selvagem”? Quem e em que selva era a “criança” de Rousseau? 

O que o Emílio faria se existisse a televisão assediando naquele tempo? O que faria um “Emídio” nos tempos da Mídia-Educação? 

(...) 

O que nessa existência é essencial? 

(...) 

Qual é a moral dessa história? 

(...) 

Que valores damos a uma boneca como a Barbie? 

(...) 

Pergunta: Por que uma Barbie sempre “foi” tão cara?

Resposta: porque “mais-valia” o lucro sobre custos de uma boneca na mão que duas mofando no estoque. 

Considerações finais 

Receio que, em sua maioria, homens e mulheres, também os pais e educadores, vejam com a maior naturalidade as crianças sorridentes brincando com suas bonecas, e saiam depois correndo às lojas, orgulhosos para presenteá-las com o mais recente modelo e acessórios da Barbie quando se aproxima o aniversário, o dia das crianças ou o Natal. Mas também, quem é que nunca viu uma criança fazendo birra para ganhar aquele brinquedo que ela quer a qualquer custo? Ela não é incentivada a isso, com a nossa condescendência, com nossos olhos fechados? 

Muitas vezes nós nos fazemos de cegos em um mundo de valores cor de rosa do consumo fácil e da oferta tentadora, quando não deciframos os “mistérios” de como a TV, as novelas, seriados, telejornais e os comerciais/propagandas falam de um mundo específico, e nos influenciam os gostos, os valores, a imaginação, as fantasias e os desejos para nós mesmos, nossos filhos ou alunos. Quando isso se dá, a realidade, o “como” as coisas acontecem nesse mundo são tomados como algo natural, que sempre foi e assim será. A propaganda fala disso, incentiva isso, cria essa realidade para nós. E, muitas vezes, parece que diante disso tudo nós apresentamos uma passividade ora cínica, ora se fazendo de impotente. E, então, vivemos como podemos: individualistas e isolados. 

Entretanto, mesmo nessa aparência de inércia há a luta pela dignidade, pelas garantias e proteção dos direitos das crianças na sua relação com a TV e o consumismo. E indivíduos, famílias e educadores organizados na sociedade podem e devem resistir como fazem, do jeito que podem, os institutos de defesa do consumidor, os fóruns de defesa dos direitos humanos, os que combatem na linha de frente de uma educação libertadora de todas essas amarras. 

Na comunidade escolar ampliada podemos atuar pedagogicamente na perspectiva da Mídia-Educação, no exercício cotidiano da profissão docente trabalhando com os meios, para os meios e através dos meios, promovendo assim a “construção do pensamento crítico” (Fantin, 2006, Pág. 100), que possibilitariam à criança não só o exercício de seus direitos inalienáveis, mas também o seu “direito à cultura, à crítica, à criação e à cidadania” (Idem) e, sobretudo o seu direito mais sagrado da infância: o de brincar. 

Brincar de tudo e brincar de nada... oras!

Não “tás” vendo que é isso mesmo? Só não enxerga quem não vê! 

A menina em mudo diálogo brincando no Campeche, longe da TV, muda a nossa percepção. Muda a nossa direção. E, como um barquinho que sai descobrindo e lendo todos os mapas, de todo os mares, da Arte e seus mistérios nunca dantes revelados, seguimos brincando em frente.   

Brincadeira de criança é assim: Arte que se enxerga apenas com os olhos que sabem o que é essencial. Algo que bem sabem as raposas e príncipes, aviadores, pescadores, viajores, leitores, escritores, meninas e mulheres de almas antigas e sábias. Crianças a quem, respeitosamente, beijamos as mãos em verdadeira e suave veneração... 

E, enquanto isso, entre os altos e baixos da crise internacional, a boneca Barbie bate recordes de vendas ano a ano, e se firma como marca da exploração da criança neste mundo consumista em que vivemos. 

Nessa civilização ocidental que se globalizou, que a televisão “vende”, somos cegos que vêm o mundo através da televisão, e quase mais nada vemos. Somos marionetes. Na selvageria desse mundo cor de rosa capitalista, homens lobos de homens, a outrora imagem da deusa, que virou estátua e depois se tornou boneca e brinquedo, foi finalmente re-endeusada... 

10 mai 2010

 

Bibliografia 

Barbie. Wikipédia. Acesso em 03 nov 2009. http://pt.wikipedia.org/wiki/Barbie. 

Casos de publicidade abusiva para a Fundação PROCON. Acesso em 03 abr 2010.

http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI105588,21048-Projeto+Crianca+e+Consumo+encaminha+casos+de+publicidade+abusiva+para 

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http://www.ciberespaco.com.br/index.php?title=Direito_autoral_na_era_digital 

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FANTIN, Monica. Mídia-educação: conceitos, experiências, diálogos Brasil-Itália. Florianópois: Cidade Futura, 2006. 

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GIRARDELLO, Gilka. A quem se endereça a TV? O caso do público infantil. Debate: Televisão e Educação. Acesso em 03 nov 2009.

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GIRARDELLO, Gilka Elvira Ponzi, OROFINO, Maria Isabel. Pesquisa de recepção com crianças, a: mídia, cultura, cotidiano. Trabalho apresentado no XI Encontro Anual da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Comunicação, Compós. Publicado em Anais do XI Encontro da COMPÓS. Rio de Janeiro, 2002 

INSTITUTO ALANA. Consumismo na Infância. Datafolha Instituto de Pesquisa. Fevereiro de 2010. Acesso em 06 mar 2010.

http://www.alana.org.br/banco_arquivos/Arquivos/docs/biblioteca/pesquisas/consumismo_infantil_final.pdf 

JUTTEL, Luiz Paulo. Brinquedo de crian,Ca, lucro de gente grande. Acesso em 19 abr 2010.

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PIACENTINI, Telma. Brincadeiras infantis na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Fundação Franklin cascaes, 2010. 

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ROVERI, Fernanda Theodoro. A boneca Barbie e a educação das meninas – um mundo de disfarces. GT 23. 30ª. ANPED. Caxambu, 07 a 10 de outubro. 2007 

________________________ Barbie: 50 anos ditando a moda das meninas. Acesso em 19 abr 2010.

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______________________. Barbie: tudo o que você quer ser… ou considerações sobre a educação de meninas. Acesso em 19 abr 2010.

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SAREDA, Alessandra; BONFIM, Débora Salazar;  SCHAFHAUSER, Elaine Cristina; VERBINSKI, Érica Fernanda Costa; VIEIRA, Karimy Nisio Monteiro Rogich.  Sociedade e consumo: análise de propagandas que influenciam o consumismo infantil. Acesso em 06 mar 2010. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14028



[1] In PIACENTINI, Telma.Brincadeiras infantis na ilha de Santa Catarina.

[2] Debate “Televisão e Educação” no “Programa Salto para o futuro”, disponível no site da TVE Brasil. http://www.tvebrasil.com

[3] Idem

[4] O Instituto Alana é uma organização sem fins lucrativos criada em 1994 que tem como missão fomentar e promover a assistência social, a educação, a cultura, a proteção e o amparo da população em geral, visando a valorização do homem e a melhoria da sua qualidade de vida, conscientizando-o para que atue em favor de seu desenvolvimento, do desenvolvimento de sua família e da comunidade em geral, sem distinção de raça, cor, posicionamento político partidário ou credo religioso. Site: http://www.alana.org.br/

[5] O Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, foi criado em 2005 para divulgar e debater questões referentes às relações de consumo que envolvam crianças e adolescentes, em especial para fomentar a reflexão sobre as conseqüências do consumismo que cada vez mais atingem essa parcela da sociedade. Para isso, conta com uma equipe interdisciplinar dividida em três áreas de atuação: Jurídico-Institucional, Educação e Pesquisa, Comunicação e Eventos.

http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Comunicacao.aspx?v=4

[6] Mattel Inc.é a maior produtora de brinquedos do mundo, que produz dentre outros, os brinquedos de carrinhos Hot Wheels e Matchbox, e a linha Fisher Price para crianças pequenas, além da Barbie. http://www.mattel.com/

[7] Ver também: http://en.wikipedia.org/wiki/Bild_Lilli_doll

[8] Letras em alemão, ingles e português: http://www.anvfeb.com.br/lili_marlene.htm

[9] Vídeo com Marlene Dietrich, em alemão: http://en.wikipedia.org/wiki/Lili_Marleen

[10] Letra e vídeo com Leslie Caron em http://www.lyricsmode.com/lyrics/l/leslie_caron/hi_lili_hi_lo.html

Versão em português com Trem da Alegria e, também com Gal Costa: http://www.muitamusica.com.br/359-gal-costa/24649-lili-hi-lili-hi-lo/letra/

[11] http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasinfantis/509303

[12] Tema abordado em sua dissertação de mestrado e aqui num texto da Revista Pontocom: Barbie: 50 anos ditando a moda das meninas.

[13] Tema abordado em sua dissertação de mestrado e aqui no texto da Revista Pontocom: Barbie: tudo o que você quer ser... ou Considerações sobre a educação de meninas.

[14] http://br.barbie.com/

[15] http://en.wikipedia.org/wiki/Barbie_Girl

[16] Banda formada em 1989 na Dinamarca, por dinamarqueses e noruegueses. A música que mais fez sucesso foi Barbie Girl de 1997 do álbum Aquarium. A banda dominava o cenário musical e as paradas mundiais nos anos 90 junto com Spice Girls e Backstreet Boys. Barbie Girl é uma das músicas mais famosas e mais ouvidas do mundo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aqua_(banda)

[17] Versão com trechos duplicados excluídos. Tradução em http://letras.terra.com.br/aqua/1815/traducao.html, e cantada em inglês no vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=_dGcYH6Fwj8. Música com legenda em inglês: http://www.youtube.com/watch?v=ebno9Rt0beU

[18] Artigo reelaborado a partir do trabalho “A Boneca Barbie e a Educação de Meninas – Um mundo de disfarces

[19] Barbie: menininha quando brinca põe a mão no coração?

[20] http://noticias.terra.com.br/interna/0,,OI3615866-EI8177,00.html

Ver também o vídeo da loja da Barbie em Shangai: http://www.youtube.com/watch?v=CQkYyHnzmjc e o site da Barbie The Ladies Club: http://www.barbiestheladies.com/

[21] http://blog.mambembe.com/barbie/

[22] Barbie em mais duas edições. http://www.revistapontocom.org.br/edicoes-anteriores-ponto-central/barbie-em-mais-duas-edicoes